tag:blogger.com,1999:blog-57194836310262066512024-03-13T00:55:19.707-07:00Mil PlatôsEscrever é um fluxo entre outros, sem nenhum privilégio em relação aos demais, e que entra em relações de corrente, contra-corrente, de redemoinho com outros fluxos, fluxos de merda, de esperma, de fala, de ação, de erotismo, de dinheiro, de política, etc.
(Gilles Deleuze - 1990)João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.comBlogger21125tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-41435240411171307422009-06-24T08:21:00.000-07:002009-06-24T08:28:11.511-07:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxXZpX900TPvboBnBJfl6avCj3Fd8wpCY5Yc0w5HN_xDO2vvU50_a5-Qyj7CzixY5j8RFXy1KbFswyM07VDyduLb8MdLw6ED7uRmgyKZqrLFNnuDBedNwo2ezFElB36EFWhrh4Bm7Gl7eb/s1600-h/francis_bacon_gallery_56.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 242px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxXZpX900TPvboBnBJfl6avCj3Fd8wpCY5Yc0w5HN_xDO2vvU50_a5-Qyj7CzixY5j8RFXy1KbFswyM07VDyduLb8MdLw6ED7uRmgyKZqrLFNnuDBedNwo2ezFElB36EFWhrh4Bm7Gl7eb/s320/francis_bacon_gallery_56.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5350915797538444850" /></a><br /><!--StartFragment--> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;line-height:150%"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;"> <!--StartFragment--> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">O melhor da amizade está fora de nós...</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span style="mso-tab-count:1"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span style="mso-tab-count:1"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Quando me foi incumbida a missão de escrever um texto sobre amizade, fiquei bastante feliz e ao mesmo tempo preocupado. Feliz porque teria a oportunidade de escrever sobre um tema que povoa o imaginário de poetas, escritores e filósofos, e preocupado com o fato de que não sendo poeta,</span><span style="mso-spacerun: yes"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">escritor, e muito menos filósofo, acabasse escrevendo alguma bobagem. Talvez muitos discordem dessa afirmação, indicando que não existe nenhuma dificuldade em escrever sobre o respectivo tema, e que para isso basta apenas deixar a escrita ser atravessada pelos mesmos afectos que se fazem presentes nessa relação. Afinal de contas, quem não possui amigos? Concordo que ninguém precisa de uma autorização ou um conhecimento prévio para discorrer sobre amizade, mas sempre que me lembro daqueles que se dedicaram a escrever sobre esse tema, sejam os pensadores da Grécia antiga ou pensadores franceses contemporâneos, é impossível não sentir um certo receio. Mas deve ser paranóia de pesquisador. Queremos sempre analisar tudo, e nesse movimento acabamos esquecendo que a vida também é mistério, e que a beleza dela reside justamente em convivermos bem com o inexplicável. Como bem afirmou John Lennon: “Vida é aquilo que acontece quando pensamos o que fazer com ela...”. Não tem nada de místico ou sobrenatural nessa afirmação, a questão é puramente “fenomenológica” ou “fenomênica”, como queiram. Pensar a amizade como uma experiência singular arrebatadora cujas formas variam de acordo com as intensidades e afecções que atravessam as diferentes relações. </span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span style="mso-tab-count:1"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Apesar de nossa época ser caracterizada pela “fluidez” do laços sociais como bem afirmou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, entendo que a amizade enquanto potência de vida, paixão alegre, continua resistindo às investidas dos microfascismos que vieram a reboque com a “capitalização” do mundo da vida. Anuncia-se aos quatro cantos do mundo que a expansão das novas tecnologias comunicacionais está dissolvendo os relacionamentos face-a-face, oferecendo em troca uma comunicação fria, “deslibidinada”: café sem cafeína, cerveja sem álcool, realidade sem real. O</span><span style="mso-spacerun: yes"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">produto desse fenômeno, dizem alguns especialistas, são homens e mulheres que não mais se prendem a relacionamentos a longo prazo. Não sou tão apocalíptico a ponto de acreditar que os seres humanos se tornaram reféns de uma máquina, ou melhor de uma tecnologia específica, e que agora os espaços de sociabilidade </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">off line</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> estarão com seus dias contados. Apesar de reconhecer que a expansão da internet reconfigurou de maneira decisiva as noções de tempo e espaço, promovendo uma transformação significativa dos nossos mapas subjetivos, penso que o desejo de estar-junto continua (e continuará) se expressando por todo o sempre. Como afirmou um conhecido filósofo francês “toda captura supõe uma dupla captura”, o que significa dizer que uma captura nunca é definitiva. A internet captura nosso desejo de estar junto, mas também é capturada por ele, e nesse movimento libera uma linha de fuga criativa subvertendo uma lógica que até então era apresentada como totalizante. </span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span style="mso-tab-count:1"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Se concordarmos com o pessimismo de alguns filósofos e sociólogos, podemos dizer que a experiência da amizade, que também é um laço social, está com os seus dias contados. Ao meu ver, mais importante do que comentar sobre a destruição de um modelo exclusivo de “sociabilidade”, é mostrar como essas transformações proporcionaram o surgimento de novos laços. Mas não quero que o texto se torne uma espécie de análise socioantropológica sobre a produção dos vínculos afetivos em nossos dias, pois como já afirmei, a experiência da amizade não pode (não deve) simplesmente ser reduzida a uma argumentação dessa natureza. Existem coisas que estão no plano do indizível, o que o poeta Olavo Bilac descreve de forma encantadora como “estados de alma”, aqui sem nenhuma conotação metafísica. Os “estados de alma” de Bilac são os momentos singulares vivenciados na (pela) experiência, o ser afectado. </span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span style="mso-tab-count:1"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Penso que a experiência da amizade é um desses estados, que não pode ser descrito, apenas vivenciado em devir. Devir-minoritário, devir-amigo, devir-eu-de-você, devir-você-de-mim. Quando afirmo que existem coisas que estão no plano do indizível, não estou me referindo a uma emoção interior que vem de um local desconhecido, o real não simbolizado da psicanálise, mas de algo que vem de fora com uma força tão grande que extrapola os sentidos de nossa pobre linguagem oral, e nessa hora é fundamental saber gaguejar em nossa própria lingua... ou, nesse caso, gaguejar em nossa própria escrita, fazer dela um deserto povoado. Esse texto não é uma produção minha, nem poderia, pois enquanto escrevia me deixei atravessar pelos sorrisos, apertos de mão, abraços, beijos, de todo(a)s aquele(a)s pessoas que estão comigo a todos os instantes, pois como já dissera o grande Marcel Proust: “</span><i><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">o melhor da memória está fora de nós. Está num ar de chuva, num cheiro a quarto fechado, ou no de um primeiro fogaréu, seja onde for que de nós mesmos encontremos aquilo que a nossa inteligência pusera de parte, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando se esgotam todas as outras, sabe ainda fazer-nos chorar</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">”.</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="mso-bidi-;font-family:Tahoma;"><span style="mso-tab-count:1"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Parodiando Proust devo afirmar que “o melhor da amizade também está fora de nós”, está no outro (outrem), está em mim e você.</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal"><o:p><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> * Texto publicado na Revista Bula 8 - Abril de 2009</span></o:p></p><p class="MsoNormal"> </p> <!--EndFragment--> <p></p> <!--EndFragment-->João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-90885070212435641032009-06-18T08:20:00.000-07:002009-06-18T08:23:41.808-07:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxtNiWIS55YJWhXkVQNLPRtQ8chiz8Op-9OYlK-SreNjkpRND_sfQJZOtJyf5fX8q9w3pXwWMabDLWxBPlZfs8GE0IaWZzLk1H5w4bNpFKM7fotFeBDHwGIV3in2P9RZCTw8kcj140g2Y/s1600-h/burocracia_3.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 174px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKxtNiWIS55YJWhXkVQNLPRtQ8chiz8Op-9OYlK-SreNjkpRND_sfQJZOtJyf5fX8q9w3pXwWMabDLWxBPlZfs8GE0IaWZzLk1H5w4bNpFKM7fotFeBDHwGIV3in2P9RZCTw8kcj140g2Y/s320/burocracia_3.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5348688543426861858" /></a><br /><!--StartFragment--> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold;">Entre "Eichmans", "Josephs k" e "Mersaults"...</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Neste último domingo, dia 14 de junho, acordei cedo decidido a retomar as atividades do blog, afinal de contas já ia fazer quase 9 meses que eu não publicava nada nesse espaço ao qual tanto estimo. Sem querer justificar minha ausência, até porque não sei se muitas pessoas sentiram minha falta, posso dizer que estive, quer dizer, ainda estou muito ocupado com os compromissos acadêmicos, entre os quais, atividades de pesquisa, leituras, participação em congressos, artigos, etc. Porém atualmente me sinto um pouco mais aliviado, o que me estimula voltar a escrever meus devaneios. Bom, onde estávamos...ah, lembrei. Acordei cedo pensando em publicar algo, mas ainda não tinha nada em mente. Então pensei, vou ligar a TV para ver se aparece algum fato novo que me inspire. Então, batata! Estou eu zapeando os canais e me deparo com uma discussão sobre um tema um tanto quanto batido e debatido, “a descriminalização da maconha”. Mesmo não sendo algo tão interessante de se ouvir às 8 da manhã de um domingo, decidi assistir para compreender as argumentações em jogo nesse embate. Entre os convidados um sociólogo e organizador da marcha da maconha no Rio de Janeiro, e um representante da associação dos magistrados, de cara, percebi que a discussão seria pelo menos divertida, para não dizer outra coisa. Entre os velhos discursos sobre estatísticas da violência envolvendo os usuários da maconha, passando pelas últimas descobertas da medicina em torno dos benefícios que podem ser extraído de tal erva, um em especial chamou minha atenção. Ao ouvir a fala do representante da associação dos magistrados comecei a pensar em Kafka e em Camus, ou melhor em Joseph K e no Sr. Mersault. Quem já leu “O Processo” e “O Estrangeiro”, certamente conhecem esses personagens, e talvez já tenha imaginado o porque dessa relação aparentemente esdrúxula. Para os que não leram eu explico: Joseph K, personagem de “O Processo” de Kafka e o Sr. Mersault, personagem de “O Estrangeiro” de Albert Camus vivenciaram situações semelhantes em suas respectivas histórias. Ambos estiveram diante de um banco de réus tendo que acertar contas com os guardiões da justiça. Bom, o caso de Mersault é bem diferente do caso de Joseph K, pois enquanto o primeiro fora levado aos tribunais por ter cometido um assassinato, o segundo desconhecia completamente os motivos<span style="mso-spacerun: yes"> </span>do seu julgamento.<span style="mso-spacerun: yes"> </span>O ponto comum entre os textos de Kafka e Camus, é que ambas as histórias evidenciam o quão abstrata, arbitrária e perversa é a máquina burocrática responsável pela criação das leis. Cheguei no ponto onde eu queria. Meu interesse não era falar sobre a discriminalização da maconha, mas sobre origem do discurso que fundamenta a argumentação dos magistrados, ou seja, dos guardiões da justiça. Ao ouvir na TV as palavras pronunciadas pelo representante da lei sobre a respectiva problemática, não conseguia identificar resquícios de pensamento, era como se ele não encontrasse possibilidades argumentativas para alem do Direito. Tudo se reduzia a uma questão de legalidade e ilegalidade. E se a lei brasileira prescreve a proibição sobre o consumo de tal substância, a discussão está encerrada. O Direito produz Eichmanns em série, pessoas que simplesmente cumprem ordens e não se questionam porque estão obedecendo. E nós questionadores dessa lógica, amargamos a condição de sermos eternos “Mersaults” e “Josephs K”.</p> <!--EndFragment-->João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-24802496999978594602008-09-17T12:24:00.000-07:002008-09-17T12:27:10.118-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmhmoWxnZWB-xund7IfnL1DO6QYwR2gSvLzAlMjzL5BFpY8uJeq6nBo88S0pKQ_FsLd9LZBwhP1hgAxYDHiTZAXuB-z1yjvc_XVrDlnwzmNAMf5ioZ7Id5aukq3Aoc3md4_51ZMRFWjOdq/s1600-h/blog.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5247073988960922930" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmhmoWxnZWB-xund7IfnL1DO6QYwR2gSvLzAlMjzL5BFpY8uJeq6nBo88S0pKQ_FsLd9LZBwhP1hgAxYDHiTZAXuB-z1yjvc_XVrDlnwzmNAMf5ioZ7Id5aukq3Aoc3md4_51ZMRFWjOdq/s320/blog.bmp" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Time is progress? Time is illusion...</strong></div><br /><div align="justify"><br />Você já teve a impressão de que o tempo está passando mais rápido? De que as 24 horas não são suficientes o bastante para realizar todas as atividades que programou durante o dia? Pois saiba que você está certo. Mas não foram as horas que diminuíram, o que mudou foi a maneira como nós estamos nos relacionando com o tempo. Muitos estudiosos, afirmam que tiramos o pé do freio e pisamos fundo no acelerador no início do século XIX, período que data o surgimento da Revolução Industrial. E, desde então, a palavra de ordem tem sido: acelerar. O trabalho - que antes era eminentemente artesanal -, migrou para o interior das fábricas, e conseqüentemente tornou-se o motor da engrenagem do sistema econômico que acabara de nascer. Logo, a velocidade tornou-se a principal aliada dos donos de indústria, que passaram a cronometrar o tempo de produção, visando maior lucratividade. E não foi apenas o tempo de produção que foi esquadrinhado. Mesmo fora da fábrica, o trabalhador passou a organizar a sua rotina tendo como referência as atividades desenvolvidas na indústria. Surgiu assim as noções de “tempo ocioso” e “tempo produtivo”, e desde então, é dessa maneira que organizamos nossa rotina. Não se pode precisar uma data para a origem do fenômeno da aceleração, porém, é consenso, que a guinada tecnológica proporcionada pela revolução industrial foi um grande potencializador do processo. Mesmo conhecendo a lógica perversa do fenômeno, aceitamos sem maiores concessões nossa sina de atleta velocista, e até desejamos isso. Não sabemos para onde estamos indo, nem onde fica a linha de chegada, mas isso não importa, a única coisa que devemos saber, é que precisamos chegar logo. A velocidade nos consome por todos os lados, ninguém quer perder seu precioso tempo com investimentos a longo prazo. <strong><em>Time is money! Time is progress!<br /></em></strong>Uma prática que nos permite, ou pelo menos permitia fugir dessa lógica predatória é a reflexão. Aquilo que muita gente insiste em chamar de “perda de tempo”. A imagem mais recorrente que eu tenho dessa prática está remetida a filosofia grega, ou para ser mais específico, à figura de Sócrates, o pensador por excelência, aquele que fazia de sua vida um exercício de contemplação incessante. Em nossos dias atuais, podemos dizer que a imagem de Sócrates está relacionada com a do “desocupado” que não tem o que fazer, por isso fica olhando para as estrelas num gozo ocioso. O pensamento tem que ser rápido, contemplação é para perdedores. Mesmo a universidade, que é conhecida popularmente como espaço de produção do “saber” (fiz questão de por saber entre aspas, pois entendo que nem todo conhecimento é saber), entrou na lógica da mercantilização do pensamento, ou seja, produção intelectual em série, cronometrada. Aquele que não produz num curto espaço de tempo, torna-se incompetente em potencial. Se no campo supostamente “intocável” da reflexão, o processo é semelhante ao das indústrias, o que dizer do nosso cotidiano? Em contraposição a imagem do pensador contemplativo, apresento a imagem patética do indivíduo diante de seu computador chateado porque o email está demorando a abrir. Dois tempos completamente diferentes. <strong><em>Aíon</em></strong> versus <strong><em>Cronos</em></strong>. Certamente, estou levando em consideração o processo de desterritorialização brutal que atinge em cheio todos os seres humanos, reconfigurando novos mapas subjetivos, traçando novas linhas desejantes. Não sou um neo-ludita, que abomina o contato com as novas tecnologias, sonhando com o retorno de um paraíso que nunca existiu, a não ser para os “românticos” de plantão. A questão é: o que fazemos com tanta velocidade? Bom, gostaria de escrever um pouco mais sobre essa questão, mas não posso “perder tanto tempo” com o texto de um blog não é mesmo?</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-57933218547939877202008-09-12T19:36:00.000-07:002008-09-13T12:40:17.044-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiacE4rPm81d5tHxFTUdkZhfk-89mWJ1xWC3Y_eorq4wU5B9KnQDtrGmyhxQpwFR9n1KkMCNwIsZQ3pV_M3Ds7uAIO2L8Olb56VRqK-MgfTlMaLuhBxtKGwpptl85oRokxVkf6PQfyujyCu/s1600-h/The_Wonder_Years.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5245330095698081026" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiacE4rPm81d5tHxFTUdkZhfk-89mWJ1xWC3Y_eorq4wU5B9KnQDtrGmyhxQpwFR9n1KkMCNwIsZQ3pV_M3Ds7uAIO2L8Olb56VRqK-MgfTlMaLuhBxtKGwpptl85oRokxVkf6PQfyujyCu/s320/The_Wonder_Years.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Homenagem</strong></div><br /><div align="justify"><br />Esta semana resolvi falar de algo mais leve, que não tem relação nenhuma com Filosofia, Psicanálise, Sociologia e/ou Antropologia. Bom, relação até tem, afinal de contas, se o pensador esloveno Slavoj Zizek consegue extrair exemplos de desenhos animados, porque eu não poderia fazer um esforço semelhante e analisar um seriado de tv como “The Wonder Years”? A resposta é simples: porque eu não quero. Tenho certeza, que muitos daqueles que têm minha idade ou uma idade aproximada, já ouviram falar de um tal seriado chamado “Anos Incríveis”, que no início dos anos 90, ia ao ar todas as noites, por volta das 19:30 na TV Cultura. Aposto que nomes como Kevin Arnold, Winnie Cooper e Paul Pfifer soam familiares não é mesmo? Talvez alguns perguntem: Mas por que cargas d'água o João está escrevendo sobre esse seriado bobo? Eu diria que por razões bem simples. Primeiro, não acho que ele seja bobo, o que significa dizer, que seu comentário em relação ao mesmo não diz muita coisa sobre minha relação com o seriado. Segundo, porque essa semana bateu uma vontade de escrever sobre algo diferente para o padrão do blog, e terceiro – e que para mim é a resposta mais coerente -, porque este seriado tem um significado especial para mim. Quem já teve oportunidade de assisti-lo sabe que “The Wonder Years” era ambientado num subúrbio dos Estados Unidos na década de 60, e retratava o cotidiano de uma típica família americana, e a relação desta com os grandes acontecimentos que marcaram a respectiva década, como a guerra do Vietnan, a revolução sexual (se é que posso usar essa expressão), a luta por direitos civis de negros e mulheres, a explosão do movimento hippie, etc,...Mas não era por retratar esses acontecimentos que o seriado tinha e tem um significado especial para mim. Na época que comecei a assisti-lo, por volta de meus 16/17 anos, nem fazia essa conexão entre os dramas da familia e os acontecimentos políticos e culturais nos quais ela estava inserida.<br />Acredito que meu fascínio estava relacionado com a forma pela qual as pequenas coisas do cotidiano eram expostas no seriado. Quem de nós não teve um professor ou professora especial? Uma paixão adolescente? Um grupo de amigos/as inseparáveis? Era quase impossível não se identificar com algumas situações vivenciadas pelo jovem Kevin Arnold. A trilha sonora que acompanhava o desenrolar das histórias também mereceria uma postagem à parte, tendo em vista a seleção de “pérolas” que desfilavam todas as noites, à começar pelo tema de abertura “<strong>With a little help for my friend</strong>” na voz de Joe Cocker, versão esta, que na minha opinião, é bem melhor que a original dos Beatles. O engraçado disso tudo, é que mesmo agora, perto dos 30 anos, continuo me emocionando com o seriado da mesma maneira que a 12 anos atrás. Não se trata de saudosismo, de ficar remoendo um passado recente, mas de uma sensação boa que me invade sempre que assisto algum episódio. Sei que esses detalhes provavelmente não terá nenhuma importância para você, que está lendo esse texto, mas isso pouco importa, meu propósito não era convencê-lo de que “Anos Incríveis” foi o melhor seriado de tv de todos os tempos. Considero essas poucas palavras uma pequena homenagem a meu devir-menino, que não cessa de me me brindar com agradáveis surpresas.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-51371065295321346502008-09-04T11:26:00.000-07:002008-09-04T11:34:50.018-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMBDtCs4Mm2-5MDvR8BS7glp9-rA0pm_okQ0xv0nKALosHaChsC0dhZCUYPloAPQbDMveGQ32DRuKfFlljSOf_GLC5u6do-wSnohnG_UdRlwJAusXiUYc-4EnENtJ_rhIPchrczKrIAMHi/s1600-h/whisky.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5242236406896264370" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMBDtCs4Mm2-5MDvR8BS7glp9-rA0pm_okQ0xv0nKALosHaChsC0dhZCUYPloAPQbDMveGQ32DRuKfFlljSOf_GLC5u6do-wSnohnG_UdRlwJAusXiUYc-4EnENtJ_rhIPchrczKrIAMHi/s320/whisky.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Algumas proposições sobre o devir-alcoólatra</strong></div><br /><div align="justify"><br />Em sua famosa entrevista concedida a Claire Parnet que ficou conhecida como ABCedário, Gilles Deleuze versa sobre os mais diferentes temas: da animalidade ao desejo, da infância ao cinema, da familia à amizade, com a serenidade que é peculiar a todos àqueles que fazem da filosofia um exercício cotidiano. Dentre as muitas letras do alfabeto, escolhi a letra “B” para ser o fio condutor desse minha nova reflexão inacabada, pois é nesse momento da entrevista que o filósofo fala de sua relação com a “B”ebida. Todos aqueles que conhecem um pouco da história de Deleuze, sabem de sua relação com o álcool, e de como essa mesma substância quase o impediu de fazer aquilo que mais gostava: pensar. O que estimulava a produção de conceitos em um outro momento acabou se convertendo em um mecanismo inibidor. O alcoólatra, diz Deleuze, "nunca para de beber, nunca para de chegar a última bebida", a última bebida nesse sentido, é o último copo que seu corpo consegue suportar. Antes que alguém pense que os comentários do filósofo acerca da bebida tem uma ponta de ressentimento devido a condição de abstêmio que desfrutava na época, afirmo que Deleuze jamais agiria dessa maneira. O que o autor expôs em sua fala é que existem formas diferenciadas de se relacionar com o álcool, e que ele só pode ser considerado um potencializador da criatividade quando “<em>ajuda a perceber que existe algo demasiadamente forte na vida</em>”, citando como exemplo, a relação que alguns escritores mantinham com a bebida, entre eles, <strong>Thomas Wolfe</strong>, <strong>Fitzgerald</strong>, <strong>Henry Miller</strong>, entre outros. Deleuze sempre foi um grande admirador dos escritores anglo saxões, e nunca escondeu que preferia estes aos franceses, talvez pelo fato deles serem estrangeiros na sua própria língua. Para além da admiração pelos textos, existia uma admiração pela vida que estes escritores imprimiam no papel, uma vida que não era ficção, mas expressão de múltiplos devires: <strong>devir-minoritário, devir-mulher, devir-alcoólatra.<br /></strong>Ao mesmo tempo que o filósofo comenta sobre a produção de um corpo sem órgãos resultante da relação homem/álcool, percebe-se uma certa cautela em sua fala, como se este devir-alcoólatra tivesse um limite. Não que Deleuze estivesse reproduzindo o slogan “beba com moderação”, longe disso. A idéia era justamente mostrar que a linha de fuga produzida no ato de embriaguês pode se converter em linha dura, molar, levando ao desejo de morte. Penso que existe uma enorme confusão em relação a algumas práticas tidas como liberadoras, mas que na verdade fazem o sentido inverso. Já se tornou lugar comum entre alguns intelectuais e artistas falarem das drogas com um certo “algo a mais entre os dentes”, podemos citar os escritos de<strong> Baudalaire</strong>, <strong>Castañeda</strong>, e até mesmo do próprio <strong>Nietzsche</strong>. Não que esses autores façam apologia ou glamourizem o consumo de certas substâncias. O problema é a “lenga-lenga” de alguns que se utilizam de certos argumentos chavões pseudo-filosóficos para afirmar que é preciso “beber todas” para elevar as idéias. E o que dizer da embriaguês transloucada de <strong>Charles Bukowski</strong> e as viagens surreais de <strong>Jack Kerouac</strong> produzidas pela ingestão de peyote? Aqui já fiz menção a outras substâncias “entorpecentes”, o que não muda o foco da discussão, uma vez que a idéia é sair do estado de sobriedade. Para além de um moralismo gorduroso que impregna o discurso dos policiais do desejo, as questões que trago para pensarmos é: em quais circunstâncias é possível devir-alcoólatra? Todos devém ou trata-se de um privilégio de poucos? E o seu Joaquim, que bebe umas e outras e depois chega em casa quebrando tudo? Quando o álcool supõe captura? Não tenho respostas para essas questões...um bom vinho para refletir um pouco...talvez. </div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-84597966244054001422008-08-11T14:14:00.000-07:002008-08-11T14:18:06.561-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1COwiRA4XnV_Io4ITOGTijzqcqqg0yPi_FbP_id_8iVAWor3GBUSsfJchBfMjdqvvvDLC5SaXL9em1LWK5PD2QopyKsHBprlAzZJ7MKQTwhgyLGGqU7mixMDRLxMCCOOIcQLOa9H0wxge/s1600-h/castigo.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5233372404367075074" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1COwiRA4XnV_Io4ITOGTijzqcqqg0yPi_FbP_id_8iVAWor3GBUSsfJchBfMjdqvvvDLC5SaXL9em1LWK5PD2QopyKsHBprlAzZJ7MKQTwhgyLGGqU7mixMDRLxMCCOOIcQLOa9H0wxge/s320/castigo.png" border="0" /></a><br /><div align="justify"><br />Corpo marcado, ordem restituída</div><br /><div align="justify"><br />Grande segmento da população acredita que a maneira mais adequada de coibir a ação dos “transgressores da lei” e minimizar a violência urbana, é reprimindo da forma mais agressiva possível esses indivíduos, pois segundo os mesmos, a lei é “muito generosa com os criminosos”. Os representantes do Estado, pressionados pela opinião pública, acabam também agindo “emocionalmente” e em conformidade com o discurso apelativo de uma população assustada, confundindo por sua vez o papel de cidadão com o de autoridade. Hannah Arendt (1994) nos mostrou que o aumento da ineficiência da polícia está acompanhada do aumento da brutalidade policial, e ao que tudo indica, o uso da força/ violência legítima nas sociedades contemporâneas tem se revelado meio insuficiente e ineficaz para combater a violência urbana. Tentar extirpar o mal da sociedade a todo custo através da imputação de castigos dos mais diversos não é algo comum apenas a sociedades específicas, está presente em todas as culturas, como elemento fundador, que organiza e dar sentido a vida social dos indivíduos. Quando me refiro a uma violência fundadora, não estou querendo reproduzir a idéia de uma estrutura inconsciente como afirmariam os estruturalistas, ou mesmo como um instinto que produziria “indivíduos maus por natureza”, falo de algo presente na gênese das sociedades, como disposições corporificadas, internalizadas, e que constituem por sua vez, o habitus (para usar um conceito do sociólogo Pierre Bourdieu) desses indivíduos, através da assimilação de uma cultura da violência. A punição, que se constitui como a imputação de castigos físicos sobre o corpo e que tem como objetivo a restituição de uma ordem que fora perdida aparece como prática legítima em nossa sociedade, herança deixada de pai para filho, reproduzida através das instituições socializadoras. Aprendemos à custa de uma “pedagogia do medo” que a melhor maneira de educar nossos filhos é dando-lhes palmadas, fazendo com que os mesmos reconheçam desde cedo que o respeito e os “bons costumes” são adquiridos através de intervenções sobre o corpo. Segundo Caldeira (2000) <strong>“A marcação sobre o corpo pela dor é percebida como uma afirmação mais poderosa do que aquela que meras palavras poderiam fazer e deveria ser usada especialmente quando a linguagem e os argumentos racionais não são entendidos”.<br /></strong>Em nossas escolas, por muitas décadas, foi comum o uso da palmatória como instrumento de correção para alunos tidos como “indisciplinados”. Lembro das histórias contadas por meu pai que relembra com um certo saudosismo da época em que a tabuada era apreendida através da dor e sob o consentimento dos progenitores, que concordavam com tal atitude. Como podemos perceber, não nos admira que em nossa sociedade, indivíduos concordem com práticas punitivas, classificando-as como necessárias e ideais ao controle da violência. Nas delegacias e presídios de todo o país continuam a se repetir as mesmas cenas de um passado não muito distante, e que muitos brasileiros ainda trazem marcado em seus corpos.<br />A “violência policial” já não é mais entendida como procedimentos repressivos legais que garantiam por sua vez a segurança e tranqüilidade dos cidadãos, cada vez mais ela se configura como um conjunto de práticas ilegais cometidas por indivíduos que utilizam sua farda para impor regras de conduta de maneira despótica. Existem inúmeras pessoas em nosso país que não conseguem distinguir “controle de violência” e “abuso de violência”, o que acaba colaborando para a intensificação dessas práticas ilegais. Muitas vêem esse modo de agir da polícia como procedimento legal, que faz parte do “trabalho da policia”, com isso, espancamentos e outras diversas formas de violência deixam de ser denunciadas. </div><br /><div align="justify"><br />ARENDT, Hannah. <em>Sobre a violência</em>. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.<br />CALDEIRA, Teresa P. do Rio. <em>Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo</em>. São Paulo: Editora 34/ Edusp.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-17905947159621268812008-07-14T12:35:00.000-07:002008-12-09T07:12:17.256-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc4aeeGKJc0YHGXevAiKI1ZWSKo6qEWDnkjjJKDcp1RxuCycAK6H6hgds4AnXrYqi10YM_adV-NzM2ykOeaDx3QtF2tdIGr6qr28AsfmTG5znwYPHGUXigOk-BpULu6oKwX7qEr1_EUG1H/s1600-h/Gato.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5222957068352431394" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc4aeeGKJc0YHGXevAiKI1ZWSKo6qEWDnkjjJKDcp1RxuCycAK6H6hgds4AnXrYqi10YM_adV-NzM2ykOeaDx3QtF2tdIGr6qr28AsfmTG5znwYPHGUXigOk-BpULu6oKwX7qEr1_EUG1H/s320/Gato.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Animal, demasiadamente animal...<br /></strong></div><br /><div align="justify">Existem livros que mudam completamente nossa relação com o mundo. Textos que nos deixam marcas profundas no ser (aqui, sem nenhuma conotação metafísica), e que nos leva a pensar sobre determinadas questões que cotidianamente passam desapercebidas. Para provocar uma ebulição em nossas entranhas (faço questão de usar “entranhas” para demarcar o lugar da animalidade em nossa vida) não é preciso mais que 100 páginas. É claro que não estou querendo desmerecer os clássicos de Tolstoi, Dostoievsk, Guimarães Rosa, Proust, e inúmeros outros, que possuem algumas centenas de páginas. O que pretendo explicitar, é que não são os números de páginas que definem uma grande obra, mas sim, a força com que as palavras chegam até nós. Acabei de ler um livro com menos de 100 páginas do filósofo argelino/francês Jacques Derrida, e posso dizer sem pestanejar, que foi uma das experiências mais incríveis que tive nos últimos meses, para não dizer anos.<br />Já conhecia outros textos do filósofo, que se tornou mundialmente reconhecido pela crítica à Jacques Lacan e a sua idéia de centralidade da estrutura (todo significado precede de um significante central). Sempre fui admirador de Derrida e de seu pensamento desconstrucionista, mas até então nunca tinha me aventurado a ler um livro inteiro desse autor. Ficava adiando, esperando o momento ideal, até que um belo dia, em belo horizonte (gostaram do trocadilho), quando participava de um evento nesta cidade, me deparei com um pequeno livro intitulado “O animal que logo sou”. Me apaixonei pelo título imediatamente. Lembrei que o autor algumas vezes escrevera sobre a relação dos seres humanos e não-humanos, mostrando que existia um principio ordenador da realidade que traçava uma hierarquia entre essas duas formas de vida. Deduzi que o livro abordava o tema da alteridade, da dificuldade de se reconhecer na figura do animal não-humano. Suposição que mais tarde veio se confirmar durante a leitura do livro. Derrida falava realmente da relação entre humanos e não-humanos, tecendo criticas contundentes a arbitrariedade do sistema de classificação lingüístico.<br />O que mais me chamou atenção, foi a maneira como o filósofo foi afetado e incitado a escrever esse texto. Num dia comum, ao sair do banho, ainda nu, Derrida se deparou com o olhar fixo de seu gato de estimação. Foi a partir desse olhar, ou melhor de uma troca de olhares, já que se trata de uma relação, que ele se viu indagado - e incomodado - a pensar sobre as idéias de “animalidade” e “ser vivente”, temas centrais da discussão proposta. Idéias que também já foram trabalhadas por outros filósofos como Heidegger e Lévinas, duas das maiores influências do filósofo francês. </div><br /><div align="justify"><br /><em>Mal estar de um animal nu diante de um outro animal, assim, pode-se-ia dizer uma espécie de animal-estar: a experiência original, única e incomparável desse mal-estar que haveria em aparecer verdadeiramente nu, diante do olhar insistente do animal, um olhar benevolente ou impiedoso, surpreso ou que reconhece. Um olhar de vidente, de visionário ou de cego extralúcido. É como se eu tivesse vergonha, então nu, diante do gato, mas também vergonha de ter vergonha.</em> (Derrida, 2002:16).</div><br /><div align="justify"><br />Neste momento, o filósofo se viu impelido, a ter que questionar, a sua vergonha, a sua nudez, a sua humanidade. Sentimentos que o afastavam do animal que estava diante do seus olhos, e da animalidade que se encontrava adormecida, esquecida no seu próprio recôndito, e que agora se revelava em toda sua grandeza por intermédio de uma experiência sensível. Do ponto de vista da experiência e dos afetos, o que existia naquele momento eram apenas dois animais nus, ou melhor, um animal, o próprio Derrida, já que o bichano não possui o sentimento de sua nudez. E foi nessa troca de afetos, potencializada pela sensação de encontrar-se nu diante de outro animal nu, que o filósofo passou a questionar sua condição de ser vivente. Quem sou eu, se animal é tudo que somos? </div><br /><div align="justify"><br /><em>Quem sou eu então? E quem é este que eu sou? A quem perguntar senão ao outro, E talvez ao próprio gato?</em> (pg. 18).</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">DERRIDA, Jacques. O Anima que logo sou. São Paulo: UNESP, 2002.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-60514784830979913552008-03-20T17:40:00.000-07:002008-12-09T07:12:17.396-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgw8EMBiT7a2dxx8HFlVkVrDU-23Lln8k8Q8CaV5I2j7UcH_f8u26I5WEIjLMfhrWodWEjAFLpngyXCR0Tb2Hbr3chwTdB8HmHRHH5VJaDZAAePlxnlA7AYkknt8PDJN6nRU5P1gttqTP4l/s1600-h/velas0012.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5179990029348162450" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgw8EMBiT7a2dxx8HFlVkVrDU-23Lln8k8Q8CaV5I2j7UcH_f8u26I5WEIjLMfhrWodWEjAFLpngyXCR0Tb2Hbr3chwTdB8HmHRHH5VJaDZAAePlxnlA7AYkknt8PDJN6nRU5P1gttqTP4l/s320/velas0012.jpg" border="0" /></a><br /><div><strong>Admirável mundo velho</strong></div><br /><div align="justify"><br />Não sei se este blog é visitado com muita freqüência, já que não vejo muitos comentários sobre os textos publicados, mas de qualquer forma acredito que alguém deve tê-lo visitado semana passada, e certamente deve ter percebido que não havia nenhuma novidade. Não sei se continuarei publicando textos todas as semanas, pois estou bastante ocupado com atividades de pesquisa, o que me exige dedicação exclusiva. Bom, mas o texto que pretendo publicar essa semana não é uma resenha sobre minha vida acadêmica, não quero matar vocês de tédio. Vou falar sobre religião, ou melhor, sobre o controle que uma única religião exerce sobre nossas vidas. Nada mais apropriado que aproveitar esse feriado da páscoa para escrever algumas linhas não é mesmo? Na semana que postei o último texto, dois acontecimentos chamaram minha atenção, principalmente por ambos estarem relacionados com o cristianismo e para ser mais específico, com o catolicismo: o embate jurídico em torno da liberação de pesquisas com “células-tronco”, e a instituição de novos pecados pelo vaticano. Mesmo com a suposta laicização do Estado, a igreja católica não para de “meter o bedelho” onde não é chamada, dando provas que apesar de todo o progresso tecnológico não saímos da idade média. A queda de braço entre religião x ciência não é nenhuma novidade, dado que esta nasceu com a proposta de “desencantar o mundo”, afastando todas as superstições que obnubilavam a possibilidade de uma compreensão racionalizante da realidade. Apesar de ser um cientista social, não sou um apologista da ciência, e tenho inúmeras críticas à maneira como a mesma tem sido (estar sendo) desenvolvida, porém é inegável que ela proporcionou uma leitura diferenciada do mundo, mostrando que os fenômenos - sejam eles naturais ou sociais – possuem uma explicação racional (nem tão racional como pensam alguns cientistas), contrariando o pensamento religioso, que dá aos mesmos atributos sobrenaturais.<br />A questão não é saber se Deus existe, ou muito menos, se é ele realmente quem dá as ordens por aqui, e sim qual a influência desse pensamento na vida política dos seres humanos. Ao meu ver, não existe nenhum problema em acreditar em Deus, no paraíso, na santa igreja, a não ser quando essas crenças interferem diretamente na vida dos indivíduos, decidindo o que é melhor para eles, sem consentimento prévio. Como se não bastasse a proibição do uso de preservativos, o que colaborou de forma decisiva para o aumento da miséria no país, e conseqüentemente com o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, ela recentemente jogou um “balde de água fria” nos sonhos de paraplégicos e tetraplégicos, alegando que as pesquisas com células embrionárias é um “atentado a vida”. Como se o impedimento da possibilidade de cura de certas doenças cardiovasculares e/ou neurodegenerativas também não se configurasse como um atentado à vida. Até quando seremos reféns de um conjunto de crenças anacrônicas que não tem implicação nenhuma sobre nossa existência cotidiana, e que além do mais, só serve para nos encher de culpa? Será que já não chegou o momento de darmos um basta nas atrocidades da igreja católica? Na mesma semana que uma audiência decidia o futuro das pesquisas com células embrionárias, me deparei com uma notícia não menos aterrorizante, principalmente se levarmos em consideração que estamos no século XXI. O Papa Bento XVI, juntamente com o conselho do Vaticano cria uma lista com novos pecados. Eles devem ter chegado a conclusão de que aqueles que nos acompanharam durante séculos não eram suficientes. Agora o tabagismo e a poluição ambiental também são pecados, ou seja, ninguém mais estará livre do “lago de fogo”. Todas as vezes que usarmos um desodorante spray, ou viajarmos em algum veículo que faça uso de combustível, estaremos dando passos em direção ao inferno. Rio para não chorar! Essa noticia só veio reforçar ainda mais a afirmação de que o progresso é apenas uma ilusão, e que apesar de nos considerarmos “seres evoluídos”, continuamos repetindo os mesmos erros de outrora.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-73984379923336055132008-03-07T07:34:00.000-08:002008-12-09T07:12:17.827-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjga3BN3PTzBdII9qXMLmbZ8WhfEFOHtytW9Vm3jmFsMJr0hrEheFCbz2sono6DJh4V-qIt5ir6NMSN6D20gaGY6C3RNpBy_GuFvEI1264H5-P9N_P8wEuVZNrDraTinl6Z9f3IV6uMEKDf/s1600-h/mulher.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5175024112335877474" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjga3BN3PTzBdII9qXMLmbZ8WhfEFOHtytW9Vm3jmFsMJr0hrEheFCbz2sono6DJh4V-qIt5ir6NMSN6D20gaGY6C3RNpBy_GuFvEI1264H5-P9N_P8wEuVZNrDraTinl6Z9f3IV6uMEKDf/s320/mulher.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Ao invés de falo, útero!</strong></div><br /><div align="justify"><br />Estamos no mês de março, aquele que é reconhecidamente o mês da mulher. Nada mais justo que escrever algumas linhas sobre aquelas, que apesar de terem conseguido um suposto reconhecimento nas últimas décadas, continuam sendo alvo de inúmeras injustiças, em muitos casos sendo até mesmo alijadas da condição de ser humano. Quem não lembra do caso Sirley? Os jovens que a espancaram disseram em depoimento que a haviam confundido com uma prostituta (como se o fato de espancar uma prostituta não tivesse nenhuma importância). Não tenho dúvida que sobre suas cabeças imbecilizadas paira a idéia de que uma mulher que “vende seu corpo” não é digna de respeito e muito menos de compaixão. Talvez alguns digam que se trata de um caso isolado, e que o incidente estar relacionado com o aumento da delinqüência juvenil nos últimos anos. Eu particularmente, penso em tudo isso como um sintoma de uma sociedade que não para de reproduzir a desigualdade entre os gêneros. Em cada marca deixada no corpo de Sirley há um pouquinho de cada brasileiro. Não significa dizer que todos os homens brasileiros são machistas, mas sim que existe uma cultura machista disseminada em nossa sociedade, e que é responsável pela construção de uma representação arbitrária sobre as mulheres, e o que é pior nos autoriza enquanto homens subjuga-las aos nossos interesses. De uns tempos para cá, tornou-se lugar comum dizer que as mulheres aos poucos estão conseguindo ocupar espaços que até então eram ocupados privilegiadamente por homens. Mas ao meu ver, isso não diz muita coisa sobre a maneira como as mulheres estão sendo tratadas cotidianamente. O fato de elas agora estarem atuando como motoristas ou metalúrgicas, não fez desaparecer a estrutura de dominação que as aprisiona historicamente. Marilena Chauí, certa vez afirmou não entender o porquê das mulheres quererem tanto se inserir no mercado de trabalho. Para ela, trata-se de uma luta pelo direito de serem exploradas igualitariamente, do tipo, “se os homens podem, nós também podemos”. Ao meu, faz sentido a afirmação da filósofa, até porque não é simplesmente a independência financeira que irá alterar a percepção masculina sobre o feminino. Mas por favor, não pensem que sou contra essas poucas oportunidades que de alguma forma melhoram a condição da mulher em nossos dias, pelo contrário, se estou escrevendo isso, é porque acredito que elas merecem o melhor, assim como todos os seres que habitam esse lugar chamado terra. Dependência financeira é um problema sim, e não é pequeno. Existem inúmeros casos de mulheres que se submetem a uma vida de sofrimento ao lado de um parceiro violento, por não possuírem condições financeiras de sustentarem a sí e seus filhos. Essa é uma questão extremamente delicada, e que merece toda nossa atenção. Mas como já havia falado no início do texto, a carência não é apenas material, é também afetiva e porque não dizer simbólico -imaginária, uma vez que as mulheres precisam ser pensadas dentro de um novo imaginário, que as retirem da condição de seres inferiores, e destrua de vez o falso binarísmo masculino/feminino.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-77185415916910023752008-02-27T15:32:00.000-08:002008-12-09T07:12:18.259-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii23kPVDhZt7AaA1-KAMrSUcM_V_qV0sq5Mj3mK9JPRbGG-YugK5HEeKR6molVR8XJeihcWUG0fmJXwVQhs6ejeuLhkV4GAAUV2jAq_Lv3q7O4wXUt5qEa0pxJGQ7yESYUZ5Lugks0AXXW/s1600-h/hombre.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5171807608208765186" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii23kPVDhZt7AaA1-KAMrSUcM_V_qV0sq5Mj3mK9JPRbGG-YugK5HEeKR6molVR8XJeihcWUG0fmJXwVQhs6ejeuLhkV4GAAUV2jAq_Lv3q7O4wXUt5qEa0pxJGQ7yESYUZ5Lugks0AXXW/s320/hombre.gif" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>A tal da Neurociência...</strong></div><br /><div align="justify"><br />Há quem diga que a televisão é um veículo informacional extremamente desnecessário, e que sua única finalidade é alienar a grande massa que se deixa fascinar pelo brilho que emana de sua tela. O que de certa maneira faz algum sentido, se refletirmos sobre como as informações veiculadas por esse aparelho possuem impacto significativo no cotidiano de milhões de pessoas. Mas os seres humanos não são apenas “zumbís teleguiados” como insistem em afirmar os críticos mais radicais da cultura televisiva. Até porque a informação é apenas um dado bruto, somos nós que damos sentidos a ela, através do capital cultural (parafraseando Bourdieu)que cada um possui. Mas por que estou falando sobre isso mesmo? Lembrei! Domingo passado, cheguei em casa quase ás 22:00, liguei a TV e estava passado o Fantástico. Fui fazer outras coisas e fiquei apenas ouvindo as noticias apresentadas naquela noite. Uma delas me chamou bastante atenção, ou melhor, me deixou de cabelo em pé. Apresentava mais uma das descobertas da Neurociência. Vocês já perceberam o quanto esta ciência tem sido requisitada atualmente? Você liga a tv lá estão os neurocientistas, folheia uma revista científica e lá estão os neurocienstistas, eles são chamados para falar desde o efeito dos psicoativos na mente humana, até a influência dos Teletubies na sexualidade infantil. Um outro dia lí na capa da Scientific American: “O inconsciente existe: neurocientistas descobrem uma área do cérebro onde provavelmente está situado o inconsciente”. Poucas pessoas davam bola para a idéia de inconsciente apresentada por Freud, mas com esse achado dos neurocientistas, a coisa pode mudar de figura. Mas voltando a matéria do Fantástico...ela comentava sobre uma recente técnica cirúgica que estava sendo introduzida no país, e tinha como objetivo corrigir pequenos distúrbios psíquicos como tiques nervosos, transtornos obsessivos, e pasmem, curar depressão. Imediatamente pensei: “mas depressão é uma doença da alma”, não me refiro ao sentido metafísico de alma, mas a um distúrbio psico-social de natureza extremamente complexa. Como curar uma ferida que se encontra na subjetividade dos indivíduos? Esse tipo de cirugia em pacientes depressivos, é bastante comum nos EUA, e ainda não foi testada no Brasil. Por aqui ela foi testada em pacientes que sofrem de “tique nervoso”, o que não é menos assustador. Fiquei pensando nesses indivíduos que se submetem a processos dessa natureza para alcançarem momentos de felicidade. Aqueles que concordam com a afirmação de que a prática psicanalítica impede que o sujeito construa um discurso autônomo sobre sua subjetividade, deve ter repensado seus conceitos após assistir esta matéria. Se Michel Foucault fez uma relação entre o consultório psicanalítico e o confessionário religioso, fico pensando qual seria a comparação feita pelo filósofo em relação as clinicas neuro-cirúgicas. Talvez ele pensasse no Frankestein de Mary Shelley, ou quem sabe “Laranja Mecânica” de Kubrick. Fico pensando daqui alguns anos, intervenção médico-cirúgica para a correção do caráter, para a normalização da conduta sexual, para a diminuição da agressividade, para a repressão dos desejos. Orwell, Huxley, Borroughs não estavam certos sobre o futuro da humanidade? Outro dia, assisti no mesmo programa de TV uma discussão sobre ética e ciência. A questão era a seguinte: É ético mapear o cérebro de adolescentes que haviam cometidos crimes de assassinato? A pesquisa tinha como objetivo entender o funcionamento da mente de um “assassino”, e mais ainda, poderia apontar caminhos de coibir o desvio, ou tendência criminosa ainda na sua origem. Alguns neurocientistas (de novo eles) afirmam que existe uma disfunção no cérebro dos indivíduos criminosos que o acompanham desde o nascimento. Se essa “moda pega”, não demorará muito para vermos crianças sendo arrancadas do colo de suas mães e sendo enviadas para centros de correção, ou quem sabe a instalação de chips. Uma pesquisa de opinião feita pelo programa na mesma noite, constatou o que eu já esperava: a maioria dos brasileiros concorda que não existe nenhum problema em fazer pesquisas com jovens infratores, e que a mesma poderia ajudar no combate da criminalidade. Não é difícil entender a receptividade da população, afinal de contas são “vidas descartáveis”, não merecedoras de compaixão. </div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-2156210979992099522008-02-22T16:30:00.000-08:002008-12-09T07:12:18.698-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo6Uhc6FTv_cAxAtMkXVyClID0_YSbosiMUz3eFIUl9318kuDYAuczNYcTmygbp3m5BrRoGbfFzYFIroZqAp-SsCxfSGc4AdV0VfdU1ceZttGGAZjO81C59n5mzYGOOS1qAjHKMHuPOhmr/s1600-h/prison.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5169967901917196530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo6Uhc6FTv_cAxAtMkXVyClID0_YSbosiMUz3eFIUl9318kuDYAuczNYcTmygbp3m5BrRoGbfFzYFIroZqAp-SsCxfSGc4AdV0VfdU1ceZttGGAZjO81C59n5mzYGOOS1qAjHKMHuPOhmr/s320/prison.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Qual a liberdade que te satisfaz?</strong></div><br /><div align="justify"><br />Esta semana o mundo inteiro foi sacudido pela notícia da renúncia do líder cubano Fidel Castro. Depois de 49 anos à frente daquela considerada até hoje a única nação “verdadeiramente” socialista, Fidel afirmou em carta aberta a população, o seu desligamento da função de chefe político. Particularmente, isso não me causou muito espanto, uma vez que o pobre homem vinha enfrentando inúmeros problemas de saúde, comuns a grande parte dos seres humanos com idade muito avançada. Como já era de se esperar, setores ultra conservadores da direita no mundo todo deram depoimentos sobre a renúncia do líder cubano, afirmando que esse gesto simbólico foi o primeiro passo para uma possível “democratização” do país. Figuras como Nicolas Sarkozy, George Bush, Tasso Jereissati, entre outros (todos farinha do mesmo saco), encheram a boca para falar de “democracia” como se fossem autênticos porta vozes da liberdade. A união européia já pensa em reatar os acordos econômicos com Cuba, e os Estados Unidos, dizem que estão dispostos a trabalhar pesado no processo de “redemocratização” do país, ou seja, introduzir a economia de mercado e diminuir o papel do estado cubano enquanto garantidor do bem estar da população. Devo dizer de antemão que não sou adepto do Socialismo - ao menos das experiências que foram até hoje desenvolvidas sob o nome de Socialismo em alguns países - e nem tampouco, percebo Fidel como um “exemplo” de governante (não que eu esteja em busca de “exemplos” ou de “governantes”, se é que vocês me entendem). Que ele é uma espécie de “mito vivo”, como afirmou o presidente Lula isso eu não discordo, uma vez que a história nos ensina a cultuar líderes. Mas isso não vem ao caso agora. Bom, mesmo não concordando com a política desenvolvida em Cuba, é impossível ficar calado diante da arbitrariedade com que a palavra Democracia é utilizada por esses indivíduos. Se a Ilha de Fidel não é democrática, não venham me dizer que um país como os EUA, que apóia práticas de torturas nas confissões de presos políticos pode ser definido como tal, isso para dar um exemplo somente no âmbito interno, porque se eu fosse falar de política externa... Concordo que devemos ter nossa liberdade assegurada, mas não esse tipo de liberdade que nos oferecem como uma das maiores conquistas do homem, e que numa sociedade capitalista significa “liberdade” para poder consumir a tecnologia mais avançada, ou “liberdade” para poder disputar uma melhor posição na escala social. Não seria interessante refletir sobre que tipo de liberdade queremos para as nossas vidas? Não se trata de fazer uma defesa do Socialismo, afirmando que a liberdade de todos é mais importante que a liberdade de um indivíduo. Para mim a anulação dos desejos e vontades singulares em nome de interesses coletivos é um atentado à vida. Talvez muitos argumentem que é justamente por eu viver num país “democrático”, que estou podendo me expressar dessa maneira, e que ao contrário, se vivesse numa ditadura, em Cuba por exemplo, teria meus direitos caçados. Tudo bem, talvez até vocês tenham razão, mas é daí? Quer dizer que “ser livre” se restringe a poder expressar seus pensamentos num pedaço de papel, ou no ciberespaço nesse caso em específico? Ou então poder ir a um supermercado e ter a liberdade de escolher entre Skol ou Haineken? Ou ainda, poder escolher morrer de fome ou numa cadeia? Peço desculpas por contrariá-los, mas definitivamente estou dispensando essa dádiva dos modernos. Nos contentamos com muito pouco mesmo não é? Basta que nos dêem o mínimo permitido para que fiquemos satisfeitos. A algumas semanas atrás lí um livro bem interessante, chamado A arte de viver para as novas gerações, do pensador francês Raoul Vaneigem, não vou falar sobre o livro para não estragar a surpresa, mas posso dizer que se trata de uma espécie de “tratado subversivo em prol da autonomia dos indivíduos”. Deixo vocês com uma das passagens do livro que considero crucial para os questionamentos feitos acima:<br /></div><br /><div align="justify">[...] Uma ética inteira fundada sobre o valor da troca, o prazer dos negócios, a honra do trabalho, os desejos reprimidos, a sobrevivência, e sobre seus opostos, o valor puro, o gratuito, o parasitismo, a brutalidade instintiva, a morte: é esse o ignóbil caldeirão no qual fervem as faculdades humanas há quase dois séculos (VANEIGEM, 2002:38).</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">VANEIGEM, Raoul. <em>A arte de viver para as novas gerações</em>. São Paulo: Conrad Editora, 2002.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-61435780559268521642008-02-14T11:16:00.000-08:002008-12-09T07:12:18.883-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAdC47j7-toIiT2fyLlxL-_VCHM7WeWe2byR68nBQl_px5l5SZNZXwr2K4rTXXKN3_4Erh1eq9wgdOLPEY3QyWM7zvYuBEHo8gyUoAGByGCYVVTmhpc6RyjxiT7GnCIPrhAOL-VvnksBy9/s1600-h/politica.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5166917251071357154" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAdC47j7-toIiT2fyLlxL-_VCHM7WeWe2byR68nBQl_px5l5SZNZXwr2K4rTXXKN3_4Erh1eq9wgdOLPEY3QyWM7zvYuBEHo8gyUoAGByGCYVVTmhpc6RyjxiT7GnCIPrhAOL-VvnksBy9/s320/politica.gif" border="0" /></a> <br /><strong>Política com “P”</strong><br /><br /><div align="justify">A palavra <strong>Política</strong>, assim como a idéia que a compreende, surgiu na Grécia Antiga, para definir o conjunto de ações implementadas para a gestão da <em>Pólis</em> (cidade grega). Isso não significa dizer que esses procedimentos tinham por objetivo apenas os interesses da cidade-estado, ou seja, a um conjunto de leis construídas com o intuito de governar (no sentido de exercer poder) uma população, pelo contrário, eles estavam relacionados a todos os aspectos da vida comunitária, a tudo que dizia respeito ao bem estar do cidadão ateniense. Acontecimentos triviais da vida em grupo eram postos em discussão na Ágora, uma espécie de praça pública onde eram decididas coletivamente, as leis que guiariam os rumos de toda a população. Mas meu interesse não é discutir a concepção clássica de Política, até porque isso já está presente nos inúmeros livros de Filosofia ou de História Antiga, meu objetivo é refletir sobre os rumos da política contemporânea, ou melhor, sobre degradação da Política em sua acepção original, e o conseqüente aparecimento da política com “p”. Não vou ficar aqui reivindicando o retorno à Pólis grega, ou à democracia ateniense, o que seria um devaneio diante de um contexto histórico como o nosso, afinal de contas cada época possui suas significações sociais específicas. Quero apenas expor de maneira extremamente resumida como nossa concepção atual de política se assenta sobre a negação daquilo que ao meu ver é o sentido da Política: <strong>o “cuidado do outro”</strong>. É sabido que em nossa sociedade moderna existe uma divisão entre esfera pública e privada, a primeira compreendendo os interesses da população de uma maneira geral, e a segunda os interesses de um grupo específico. Certamente estou fazendo uma leitura grosseira, já que a divisão entre essas duas instâncias não é tão simples assim quanto se imagina. Pois bem, conforme falei anteriormente, a idéia de Política em sua acepção clássica, abrange os interesses de toda a população, independente da posição que cada um ocupa na sociedade. É claro que na democracia ateniense, mulheres e escravos eram impedidos de participar das discussões na Ágora, mas essa é uma outra discussão, voltemos a proposta do texto. Em nosso atual contexto, a idéia de política passou a corresponder as ações desenvolvidas pelo Estado para uma parcela “exclusiva” da população, ou seja, os assuntos relativos à cidade, à pólis, deixou de ser do interesse de todos. O apartheid social instaurado nas cidades modernas, mostra perfeitamente esse desinteresse das camadas mais abastadas da população por tudo que é público. O surgimento de condomínios luxuosos, espaços residenciais dotados dos mais diversos serviços como escolas, hospitais, comércio, lazer etc, é o reflexo dessa aversão à vida na cidade. Na introdução de Vidas Desperdiçadas (2005), o sociólogo polonês Zygmunt Bauman cita uma passagem bastante interessante do livro Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino. Das muitas cidades descritas por Calvino, uma em específico chama a atenção de Bauman, ela se chama Leônia. Os habitantes de Leônia tem por hábito consumir inúmeros produtos, “as novidades mais quentes do momento”, dessa forma produzem uma quantidade de lixo surpreendente. Todas as manhãs o carro do lixo vem apanhar as sobras do dia anterior, o que faz um estranho como Marco Polo, intuir se a “verdadeira paixão dos leonianos”não seria o prazer de expelir, descartar...Distante da cidade, uma enorme montanha de lixo é formada, mas ninguém se preocupa com a mesma, “a não ser quando uma rara golfada de vento leva a seus lares novo em folha um odor que lembra um monte de lixo(...)”. Assim como os leonianos, uma parcela da população não percebe os problemas da cidade, a não ser quando eles batem à sua porta. Dessa maneira, a idéia de política, assume cada vez mais uma conotação local, a <strong>política com “p”</strong> na qual me referi acima. Vejamos o exemplo da violência, ela só se torna problema de todos, <strong>Política com “P”</strong>, quando ela invade um espaço delimitado da cidade, habitado por “pessoas que não estão autorizadas a morrer”. Enquanto ela se aglomera nas periferias da cidade, vitimando seres anônimos, é um problema só deles. Enquanto os problemas da cidade ficarem alheios a uma parcela da população, aquela que não possui território fixo, continuaremos sob o domínio da política com “p”.<br /></div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-80357499357995078102008-02-08T15:28:00.000-08:002008-02-08T15:31:24.548-08:00É hora de voltar a ativa...<div align="justify">Depois de uma temporada de férias em minha cidade natal, estou de volta com as baterias recarregadas e com a língua mais afiada do que nunca, ou melhor, os dedos. Enquanto grande parte da população se esbaldava nos 4 dias de folia, eu estava recluso em meu apartamento terminando um artigo, que me custou alguns neurônios. Estou brincando, foi extremamente prazeroso escrevê-lo. Mas isso não vem ao caso, o que importa é que estou de volta, e com fôlego renovado. Espero que esse ano seja bem mais produtivo (do ponto de vista qualitativo) do que ano passado, e que as profecias dos chineses em relação ao “Ano do Rato” não se confirmem. Mas chega de “conversa fiada”, é hora de voltar a ativa!</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-21692893233503506572007-12-14T17:05:00.000-08:002007-12-14T17:09:37.589-08:00RetificaçãoCaros amigos,<br /><br />Por motivo de força maior (leia-se, compromissos acadêmicos) passarei algumas semanas sem postar textos no blog. Peço desculpas pelo transtorno.<br />Logo retornarei as atividades.<br /><br />AbraçosJoão Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-55315498458178581022007-11-29T08:55:00.000-08:002008-12-09T07:12:19.063-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4N4RopY_-a_zqtEFnGjVuRzgKvEYC4VfXne_WUaqK9LrJV4Dlxa9qXstIafRj44cxxQOqwcNfNS-QRg6MD0OFWxAPyJFGUlBw4CvnXDWi10uOBnIdK8dljPFPN7YZPysCTgQWRdGoSt8d/s1600-h/Hamlet02.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5138307482339920546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4N4RopY_-a_zqtEFnGjVuRzgKvEYC4VfXne_WUaqK9LrJV4Dlxa9qXstIafRj44cxxQOqwcNfNS-QRg6MD0OFWxAPyJFGUlBw4CvnXDWi10uOBnIdK8dljPFPN7YZPysCTgQWRdGoSt8d/s320/Hamlet02.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>A insustentável leveza do <em>não-ser</em></strong></div><br /><div align="justify"><br />Confesso, o título não é nenhum pouco original, foi uma “enrabada” no melhor sentido deleuziano de uma expressão de Milan Kundera. Acredito que todos vocês devem conhecer o livro “A insustentável leveza do ser” não é mesmo? E daí? Quem se importa com isso? Além do mais, não se trata de um plágio descarado, digamos que é uma homenagem póstuma, mesmo achando esse livro de Kundera demasiadamente chato...Mas não vim aqui para falar sobre literatura <em><strong>strictu sensu</strong></em>, o que não seria má idéia, diga-se de passagem, contudo, prefiro me debruçar sobre outra coisa, algo que me incomoda profundamente, não só a mim claro, pois se trata de uma questão existencial, falo do não-ser. Prometo não ficar torrando a paciência de vocês com uma elaboração recheada de expressões filosóficas de difícil tradução, como fazem os iniciados quando vão discorrer sobre questões de grande complexidade. Bom, sempre ouvi de várias pessoas, (e acho que muitos de vocês também já ouviram), a idéia de que o ser humano tem uma essência, que só é descoberta a posteriori, quando nos livramos da máscara que apresenta uma visão falseada daquilo que somos de verdade. Atualmente a idéia de “ser”, ou melhor, de essência vem sendo questionada por aqueles que pensam o ser humano como uma potência em constante transformação, rompendo com a idéia de que somos um construto biológico, ou meramente racional. Droga! Já estou falando de filosofia, mesmo dizendo que não faria...peço desculpas pelo meu curto lapso de memória, é o costume...mas como ia dizendo, várias pessoas tendem a achar que as “máscaras” são próteses identitárias a qual nos agarramos para esconder algo. Por outro lado, existem aqueles que se sentem felizes com essa condição, dizendo até que as máscaras traduzem aquilo que são realmente. Intrigante não? O que sabemos é que a todo instante estamos a procura daquela máscara que melhor nos servirá. Cotidianamente estamos querendo “ser” algo, pertencer a algo, só para ter o prazer de dizer para alguém que possuímos uma identidade, do tipo: sou militante de esquerda, ou então sou punk, ou sou vegetariano, ou sei lá...qualquer outra coisa. Por outro lado, existe um outro movimento (no sentido de direção), cuja a orientação é pautada pelo “não-ser”. Todos vocês devem ter um amigo “ex-alguma coisa”: ex-rockeiro, ex-anarquista, ex-católico, enfim...”ex-qualquer coisa”. Quando muitos deles são indagados sobre o “por que” da negação de algo que em outro momento foi tão importante, costumam dizer: “não agüentei a pressão”, “ela me privava de determinadas coisas”, “não quero seguir regras”, muitas são as frases. Dessa forma, passam a criticar ferozmente seu antigo papel, usando toda a força para destruir o pai castrador, a autoridade, a lei que fazia de suas vidas um verdadeiro inferno. Sem perceber, acabam aderindo um novo papel, cuja a identidade é construída na depreciação da identidade antiga. O “não-ser” acaba se tornando ser..e tudo volta a “ser” como era antes. Não conseguimos viver sem uma classificação, mesmo que ela nos traga sofrimento, pois é menos doloroso sofrer pelo pertencimento do que pelo não pertencimento. Carregar o peso de uma identidade é uma enorme responsabilidade, por isso há aqueles que mesmo em conflito consigo mesmo, preferem continuar vivendo da maneira que consideram mais adequada, evitando a fogueira da inquisição e os olhares de desconfiança. A maior dificuldade não está em romper com o antigo papel, e sim em não assumir um outro. A prova maior é que muitos dos que são “ex-alguma coisa” procuram sempre um novo rótulo o mais rápido possível, assumindo uma nova conduta, que em muitos casos é tão disciplinadora quanto a primeira...<br />O ser humano é um bicho complicado mesmo, nunca está satisfeito com nada, quando está livre, reclama segurança, quando está seguro, reclama liberdade...<br />Vai entender...</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-85192147614671345252007-11-21T06:57:00.000-08:002008-12-09T07:12:19.234-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjua1n2KPB_Xr7NJU4QdWARyoLi0Z6E9dw_viODrcwkqowGDXoHZTVR3VOD7yEgAyLhM3fhP1HRLMUzCwiVNSZ0l7Hivm4Uzlu2JseT0QHc2YYCHoyi2_7Hgq86jcijdCP7BQJdDliOqp2h/s1600-h/05-04-18_01.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5135309054001433234" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjua1n2KPB_Xr7NJU4QdWARyoLi0Z6E9dw_viODrcwkqowGDXoHZTVR3VOD7yEgAyLhM3fhP1HRLMUzCwiVNSZ0l7Hivm4Uzlu2JseT0QHc2YYCHoyi2_7Hgq86jcijdCP7BQJdDliOqp2h/s320/05-04-18_01.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Reflexões sobre o racismo no Brasil</strong></div><br /><div align="justify"><br />A todo momento somos interpelados pela questão: “existe racismo no Brasil”? A idéia de uma nação miscigenada na qual as etnias convivem harmoniosamente é o argumento mais utilizado por aqueles que relutam em acreditar que o Brasil é um país verdadeiramente democrático. Também queria muito poder acreditar nessa afirmação, porém o cotidiano a todo instante me faz entender de maneira cruel que as coisas não são tão belas quanto imaginamos. Mesmo levando em consideração o fato de que a escravidão foi abolida no país a mais de um século, e que muitos negros estão ocupando “posições sociais” que até então eram privilégios de brancos, não podemos deixar de notar que o preconceito racial a cada dia dá provas de sua força. Diferente do apartheid norte-americano, onde brancos e negros eram segregados em mundos distintos, o nosso é caracterizado pelo silêncio. Ninguém é racista até última instância...somente em casos especiais, como por exemplo, quando uma garota branca (nem tão branca assim) insiste em namorar um garoto negro, ou vice-versa. Os pais ficam aflitos, não conseguem entender o que a filhinha, (ou o filhinho) deles viu em um rapaz (ou uma moça) com essas características, então, tentam persuadir-la (o) a desistir do relacionamento que de acordo com eles, não pode dar certo. Porém, o que chama atenção nesses casos, é que em muitos deles, a palavra racismo não é mencionada. Os indivíduos não se reconhecem enquanto racistas, e dessa maneira vão tocando o cotidiano, afinal de contas não é possível serem acusados de algo que inexiste por aqui, não é mesmo?<br />Interessante é que a população só se indigna com esses casos quando os mesmos ganham repercussão na mídia de uma maneira geral. Lembro das reações de alguns jornalistas diante do caso que envolvia a mãe de um jogador de futebol famoso, que foi “convidada” pelo recepcionista de um hotel a ingressar pelo elevador de serviço, utilizado pelos empregados pelo fato de ser negra. Logo, a população se mostrou revoltada com a atitude do recepcionista, que não fez nada mais que reproduzir uma prática que certamente estava dentro das normas do hotel, e mais ainda, introjetada nos esquemas representacionais de muitos ditos “cidadãos de bens” da sociedade brasileira. E por falar em futebol, é dentro das famosas “quatro linhas” que acontecem muitos dos casos de racismo do país. Quem não lembra dos inúmeros casos de jogadores negros que foram cuspidos ou chamados de “macacos” por seus colegas de profissão? Como podemos perceber o racismo por aqui é bem mais comum do que imaginamos, mas mesmo assim, insistimos nessa “lenga-lenga” verborrágica de que isso é problema de outros países, como aqueles da Europa, onde é comum encontrar facções de extrema direita que pregam ódio aos negros e aos chamados mestiços. Lamento informar, mas no Brasil existem também grupos que pregam ódio racial, e a cada dia crescem o número de adeptos. No inicio do ano em Brasília houve um atentado a uma residência estudantil na UNB onde viviam estudantes africanos. Como se não bastassem as pichações com dizeres odiosos nas portas dos apartamentos, atearam fogo no prédio. Lembro de ter ouvido comentários que diziam que alguns estudantes estavam indignados com certos privilégios concedidos aos africanos, como se de alguma forma isso apaziguasse o caráter racista do atentado. Parece que a Universidade de Brasília convive bem com essa situação, quem não lembra o caso do professor de Ciências Políticas que foi punido por se referir aos negros como “crioulada”. Diferente do que podemos imaginar, esses casos não são cometidos por indivíduos de maneira isolada, como por maldade, ou por falta de amor ao próximo. Trata-se de uma particularidade da cultura brasileira que tem suas raízes fincadas sobre uma velha estrutura definida pelo par “casa-grande e senzala”. Tinha planejado escrever sobre outra coisa, mas lembrei que estávamos na semana da consciência negra, e, que não poderia perder a oportunidade de me manifestar a respeito de um fenômeno que sob muitos aspectos ainda é considerado tabu em nosso país. </div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-61434547336651433172007-11-14T07:50:00.000-08:002008-12-09T07:12:19.411-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzmDy-mhC4_XO6EfVlVgvN3xma0JNcLd3PnjJSju1lBKAVwlL_GzgnUUOxs_Eiotz-AIvWrpANwaNaNvKacRlel72CMmDRfnTkBtPmWDN3OnSNGQKjNDIWOtQrkCk20hwANZgHuw4K76_A/s1600-h/Loneliness.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5132724905067692322" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzmDy-mhC4_XO6EfVlVgvN3xma0JNcLd3PnjJSju1lBKAVwlL_GzgnUUOxs_Eiotz-AIvWrpANwaNaNvKacRlel72CMmDRfnTkBtPmWDN3OnSNGQKjNDIWOtQrkCk20hwANZgHuw4K76_A/s320/Loneliness.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Amar o próximo: tarefa complicada?</strong></div><br /><div align="justify"><br />Confesso que o último texto tinha uma “cara” de artigo científico, mas fazer o quê né? Quem mandou se tornar sociólogo...eu particularmente prefiro a escrita do poetas, dos literatos de uma maneira geral, por isso, nesta semana, me comprometo a prosear sobre algo mais leve, mas nem por isso menos importante do que as outras temáticas aqui discutidas. Falarei da amizade, essa forma de amor que une os seres humanos, e que segundo os gregos é uma fonte de sabedoria e felicidade. Para ser sincero, acho que falarei bem mais da forma como esse sentimento vem sendo desprezado em nossos dias, e de como vem se tornando uma espécie de troca de favores entre indivíduos, relação que só persiste enquanto um ou outro puder extrair para sí próprio o maior prazer possível. A famosa “relação pura” que é saudada por Giddens (1993) como uma grande conquista de homens e mulheres (principalmente das mulheres) no que diz respeito aos relacionamentos afetivo-amorosos, também se faz presente na construção dos vínculos sócio-afetivos. Ao torna-se uma expressão da reflexividade contemporânea, a amizade perde seu conteúdo ético, justamente aquilo que a torna um sentimento tão especial. Vivemos em um tempo onde a tradição e os valores ligados a mesma são tratados como entraves ao bom funcionamento do corpo social, tudo que lembrar dignidade, respeito, solidariedade, é percebido como romantismo demasiado, peças de museu que não mais tem espaço num mundo extremamente competitivo. A todos instantes nos fazem lembrar o quanto o próximo é um adversário em potencial. Freud em seu famoso texto “O mal estar na civilização” introduziu a idéia de que é impossível “amar o próximo como se ama a si mesmo”, afirmando que a premissa judaico-cristã nos exigia uma tarefa impossível. O distanciamento psíquico em relação ao próximo, faz com que eu o perceba como alguém não merecedor de meu amor, ou seja, quanto mais diferente de mim, menos amor poderei ofertá-lo. Além dessa condição, Freud introduziu uma outra, que torna o próximo (diferente), alguém passível de desconfiança. Dessa forma, como entregar de bandeja um bem tão precioso para alguém que só quer o meu mal? O pensamento moderno de vertente hobbesiana continua reverberando em nossa época, só que travestido com o nome de “reflexividade”. É a capacidade de fazermos uma leitura sistemática da ação de indivíduo, que faz com que eu o veja como um adversário em potencial. No mundo antigo, o sentimento da amizade era super valorizado, basta lembrarmos dos discursos imortalizados de Sócrates sobre a “impossibilidade dos maus amarem seus próximos”, ou mesmo Cícero, afirmando que “a amizade só pode existir entre homens de bem e entre aqueles dedicados a sabedoria”. Não é tôa que autores como Hannah Arendt e Emanuel Lévinas, pensadores que se dedicaram a falar do amor como condição fundamental da existência humana, estiveram engajados durante toda a vida com a constituição de um espaço verdadeiramente democrático que permitisse a produção de relações éticas pautadas por um senso de humanidade comum a todos. A reconstituição da pólis no mundo contemporâneo, torna-se dessa forma uma tarefa impossível uma vez que estamos todos contaminados com o vírus da desconfiança. Com o aumento da indiferença e a derrocada do amor, a amizade agora respira através de aparelhos. Porém existem aqueles que ainda acreditam na redenção da humanidade, na possibilidade de uma vida menos sombria, e que não se incomodam de serem reconhecidos como “românticos” e/ou “idealistas”. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman talvez seja um dos poucos pensadores vivos que ainda tentam mostrar que nem tudo está perdido, e que amar o próximo é possível, mesmo que seja como ato de fé. Eu particularmente tenho algumas críticas a Bauman, pelo fato de ele não levar em consideração as inúmeras mudanças nas relações contemporâneas que permitiram um maior equilíbrio entre os gêneros. Porém, é impossível ficar indiferente ao seu apelo desesperado por mais amor ao mundo e aos seres humanos de uma maneira geral. Bauman percebe a dificuldade amar o próximo como uma herança maldita da sociedade, uma espécie de estrutura social que age sobre os indivíduos, que os torna insensíveis e indiferentes ao sofrimento alheio. Quem dera fôssemos como Winttgenstein, capazes de se indignar com o sofrimento de um único ser humano... acabei falando muito pouco daquilo que me propus no início, talvez pelo fato de estar preocupado demais com a situação dos vínculos sócio-afetivos na contemporaneidade, talvez por achar que a amizade não pode ser traduzida em palavras...sei lá, acho que foram as duas coisas.<br /></div><br /><div align="justify">GIDDENS, Anthony. <strong>As transformações da intimidade</strong>. São Paulo: Editora Unesp, 2003.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-72627007956371717092007-11-07T05:47:00.000-08:002008-12-09T07:12:19.528-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNXuvlsKTXBs0_oOjB8x9_iJl_Doygtuz15-bJyg0vTvai1SQtW5jXcCulmOrSpQQdRaSgegmodg8IG5GTkNsl4VMgEv8P5wL5-ERJD_cVp4dDf2Y4onpauO1UcE93_Ga6GVQs6b2590We/s1600-h/mãos.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5130095642472070594" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNXuvlsKTXBs0_oOjB8x9_iJl_Doygtuz15-bJyg0vTvai1SQtW5jXcCulmOrSpQQdRaSgegmodg8IG5GTkNsl4VMgEv8P5wL5-ERJD_cVp4dDf2Y4onpauO1UcE93_Ga6GVQs6b2590We/s320/m%C3%A3os.bmp" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>You say you want a revolution? Well you know...</strong></div><br /><div align="justify"><br />Com a saturação do imaginário moderno em virtude das recentes transformações políticas e culturais que marcaram o início do século XX, podemos vislumbrar o nascimento de novas formas de oposição ao poder. Diferente dos partidos políticos de esquerda, essas micro-resistências não sonham com a “tomada do poder” mediante uma revolução, e muito menos acreditam ser possível uma sociedade igualitária, transparente e livre de conflitos, como prescreve a utopia socialista. Eles fazem do cotidiano sua praça de guerra, resistindo bravamente as diferentes formas de poder que perpassam todo o tecido social. Para aqueles que continuam presos a um modelo de transformação política do século XIX, é impossível conceber formas de luta, que tenham por objetivo maior a causa do sujeito, uma vez que a idéia de singularidade é confundida com afirmação individual, ou seja, mais uma estratégia da “burguesia”. Assim, a idéia de micropolítica, que estar relacionada com a produção de afectos (no sentido Spinozano), é suplantada, por um discurso reacionário, que associa subjetividade a conformismo. Será que podemos continuar desprezando as microrebeldias pelas mesmas não possuírem uma organização semelhante a dos partidos ou um projeto de revolução centrado na conquista do poder?</div><br /><div align="justify"><br /><strong>“Quando o mundo é concebido através do prisma da conquista do poder, muitas das lutas, muitas das maneiras de expressão da nossa rejeição, muitas das maneiras de lutar pelos nossos sonhos de uma sociedade diferente simplesmente se “filtram”, simplesmente permanecem ocultas. Aprendemos a suprimi-las e, assim, a suprimirmos a nós mesmos” (Holloway, 2003:31).</strong><br /></div><br /><div align="justify">Quando enfatizamos a dimensão micropolítica, não estamos querendo desmerecer as inúmeras lutas das organizações que buscam transformar a sociedade por intermédio do Estado, mas sim indicar, que a política em seu sentido mais amplo não pode ser concebida a partir de uma esfera apartada do sujeito. Não se trata de afirmar que os membros das instituições partidárias são seres a-desejantes, o que seria uma afirmação absurda, pois é impossível falarmos de uma colonização total dos afetos pela razão. Contudo, não podemos deixar de levar em consideração, que os discursos de poder das instituições que prescrevem ao sujeito uma única forma possível de transformação social, retira do mesmo, a capacidade de refletir sobre sua própria condição de sujeito histórico, ele não “age” sobre as estruturas de poder, mas é “agido” pelas mesmas. Quando nos remetemos a uma reconfiguração das lutas políticas na contemporaneidade enfatizando a capacidade criadora dos sujeitos, não significa dizer que estamos assistindo a uma tomada de consciência planetária dos indivíduos como jamais foi vista, mas indicar que aquela noção de revolução centrada na conquista do poder, foi (está sendo) reelaborada devido acontecimentos históricos decisivos. O fracasso das experiências socialistas na China, Alemanha e Rússia, somadas as descrenças na mudança advindas de um quadro político institucionalizado, fez com que surgissem alternativas a um modelo típico ideal de revolução. O descontentamento social se expressa em nossos dias de maneira difusa, vemos o aumento de diversos focos de contestação com preocupações que escapam os tradicionais temas das reivindicações de classe. Isso não implica dizer que a luta por uma menor desigualdade sócio-econômica entre os povos tenha perdido sua força em detrimento de outras lutas, mas sim que existem diversos grupos que se organizam dentro de outra perspectiva, que não somente aquela fornecida pela luta de classes. O desafio que hoje se impõe a esses grupos é repensar uma tática de dissolução das estruturas de poder, que não aquela construída pelo olhar do dominador. A maioria dos movimentos sociais (sejam aqueles que lutam por reconhecimento ou distribuição) continuam aprisionados em um modelo moral, onde o que está em jogo são as “verdades” do coletivo sobre a verdade do sujeito, resiste-se não porque busca-se a felicidade, uma estilística da existência (semelhante aquela apresentada pela afrodisíaca grega), mas sim porque estamos territorializados pelos discursos de poder. A luta cotidiana contra os “micro-fascismos” representa uma tentativa de construirmos uma resistência do ponto de vista do sujeito, colocando em evidência o desejo, pois só ele é revolucionário...<br /></div><br /><div align="justify">HOLLOWAY, John. <strong>Mudar o mundo sem tomar o poder</strong>. São Paulo: Editora Viramundo, 2003.</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-91563477792851055982007-10-31T09:28:00.000-07:002008-12-09T07:12:19.730-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc46wCz8LE4NxdNgKuT2ZjYzLdKTW0l0U0fz31hXDcNLcKgR4FPV76CNlQWe1SA5Yp6u4kf3DfGzmISAHhDK9R6v1UkCh8uu1_xjPXdnsRRn-9QUeljb-6Y6oYsKuS5S7zEs6jYsJKaVuo/s1600-h/punks4.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5127539655894613426" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc46wCz8LE4NxdNgKuT2ZjYzLdKTW0l0U0fz31hXDcNLcKgR4FPV76CNlQWe1SA5Yp6u4kf3DfGzmISAHhDK9R6v1UkCh8uu1_xjPXdnsRRn-9QUeljb-6Y6oYsKuS5S7zEs6jYsJKaVuo/s320/punks4.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Quem será o próximo bode expiatório ?</strong><br /></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Muitos dos que me conhecem talvez já deduzissem de antemão qual seria a temática do texto dessa semana, afinal de contas, vocês também devem ter acompanhado em tom de indignação as matérias que foram veiculadas pelos programas Domingo Espetacular (Record) e Fantástico (Globo) neste domingo (28/10/2007). As respectivas versavam sobre a “cultura punk”, para ser mais específico, sobre a violência disseminada por aqueles que partilham dos ideais desse movimento. Como alguns devem ter podido acompanhar, a proposta era apenas uma: mostrar que as atitudes violentas empreendidas por esses jovens eram produzidas por uma espécie de “má influência” advinda do próprio punk enquanto estilo de vida. Não é nenhuma novidade afirmar que ambas eram de uma pobreza documental sem tamanho, por isso, prefiro pular essa parte. Acho mais interessante discutir a maneira como a problemática da violência e sua relação com a juventude foi trabalhada. Ao invés de abordar a violência como um fenômeno de extrema complexidade que envolve elementos econômicos, políticos, culturais e psíquicos, e que atinge toda a juventude brasileira (e do mundo todo), apresentaram a mesma como uma particularidade de determinados grupos ou melhor de um grupo em específico, reconhecidamente estigmatizado desde sua aparição no país, no início dos anos 80. Em tempos de crise, sempre procura-se um “bode expiatório”, ele funciona como uma espécie de catalisador de todas as mazelas cotidianas, e a bola da vez é o movimento punk. Não lembro de ter visto nos últimos anos, alguma matéria “positivando” as ações desse grupo, se referindo a maneira como questionam os valores dominantes da sociedade: machismo, homofobia, sexísmo, racismo, etc, o que confirma a máxima de que “punk só pode ser noticia quando está na página policial”. A chamada de uma das matérias trazia a seguinte frase: “por que cultuam a violência?”, quando a pergunta deveria ser: “por que a violência é uma constante entre todos os grupos que portam consigo verdades pré-estabelecidas?”. Aí partiríamos de um outro viés, pois passaríamos a analisar o aniquilamento físico e simbólico do outro como uma forma de garantir a coesão grupal, pois como dissera o sociólogo Norbert Elias (2000), “o grupo reforça seus ideais através da negação dos ideais do grupo ao qual se opõe”. A situação se complica, quando a violência não é mais cometida entre bandos rivais, no caso “punks x skins”, disputa que se arrasta por décadas, e sim, passa a ter como alvos pessoas comuns, que não possuem ligação com qualquer postura político-ideológica, como foi o caso do garçom morto por três jovens definidos como “punks” a algumas semanas. Então, essa ação criminosa já não pode ser considerada um produto ideológico-cultural-simbólico (usem a expressão que considerarem mais adequada) de um movimento em específico, a não ser que a vítima em questão fizesse parte de um grupo rival, o que não era o caso. A violência cometida pelos três jovens é a mesma que se faz presente no nosso cotidiano, e não é um atributo específico de um segmento da população, pois ela está capilarizada por todo tecido social, e se projeta das mais diversas formas. Sem querer explicar o fenômeno, até porque seria impossível, só podemos indicar que ela é o “fio condutor maldito” que une a sociedade, e torna todos “frutos de uma mesma árvore”. Alguns de vocês acham que existem realmente diferenças entre a violência cometida pelos jovens de classe média que espancaram a doméstica Sirley, e aquela cometida pelos jovens “punks” que assassinaram o garçom? Eu particularmente acredito que existem. A diferença estar na pele, na condição sócio-econômica, no visual provocador...e é justamente nessas diferenças que residem o “xis” da questão. São nessas significações sociais como mostra Castoriadis (1982), que se escondem ou melhor, se apresentam um apartheid cruel. Quem não se lembra da morte do garotinho João Hélio? Na ocasião houve uma comoção generalizada da população com milhares de pessoas indo as ruas para protestar contra a violência e a impunidade no país. Nas favelas brasileiras, crianças como João Hélio, são assassinadas freqüentemente, porém a revolta se limita a circunferência da favela. Por que será que a população não se indigna indo também as ruas? Por que algumas mortes se tornam estatística e outras são sentidas de forma intensa? <strong>A diferença está na in-diferença pela qual tratamos o diferente</strong>. Parece confuso, mas não é difícil compreender. Existem pessoas que estão autorizadas a morrer, e outras não. Então vocês me perguntam: Mas como assim? Quem define os parâmetros? E eu respondo: a sociedade e suas convenções, ou seja nós mesmos... parece absurdo, mas é assim que procede. Nós tendemos a nos sensibilizar com sofrimento daqueles que são próximos, e ser indiferentes com aqueles que estão distante de nós sobre vários aspectos. Claro que isso não é condicionado racionalmente, digamos que é uma elaboração de nosso imaginário instituinte (parafraseando Castoriadis novamente). Alguns dizem, que a “dificuldade de amar o próximo” é uma condição originária do homem, outros dizem que ela é constructo social, e jamais chegamos ao um consenso. O que sabemos é que ela nos acompanha desde a mais tenra idade. Fiz todo esse percurso para mostrar que a violência, aquela mesma que os programas da Globo e da Record, disseram ser produzida por um grupo carregado de idiossincrasias, se faz presente em toda a humanidade. Imputar ao movimento punk o estigma de violento é apenas uma maneira superficial de enxergar o problema.<br /></div><br /><div align="justify">CASTORIADIS, Cornélius. <strong>A instituição imaginária da sociedade</strong>. SP: Paz & Terra, 1982.<br /></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">ELIAS, Norbert. <strong>Os estabelecidos e os outsiders</strong>. RJ: Jorge Zahar, 2000. </div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-84796139446851621132007-10-23T21:21:00.000-07:002008-12-09T07:12:19.910-08:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb5DqEf4Aply0cgVJRr7GMoMm6PCBejYNjoaFvXfJavl-40l0_2uqwTESOdEQ_3ws_taaZiNzQ2naiFI1dzMWOQp22lBjP9lAFE1R249zBTmOYQBDowo5Whli2dDr86agogYLkKPi_1AQJ/s1600-h/foucault-reading.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5124754480173590338" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb5DqEf4Aply0cgVJRr7GMoMm6PCBejYNjoaFvXfJavl-40l0_2uqwTESOdEQ_3ws_taaZiNzQ2naiFI1dzMWOQp22lBjP9lAFE1R249zBTmOYQBDowo5Whli2dDr86agogYLkKPi_1AQJ/s320/foucault-reading.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Sobre o tal "bonde do Foucault"</strong><br /></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">Um artigo escrito pelo jornalista e colunista da Revista Veja Reinaldo Azevedo a algumas semanas atrás, chamou bastante minha atenção. Trata-se de um texto comentando os supostos ataques de alguns intelectuais ao filme “Tropa de Elite”, de José Padilha, que vem sendo acusado, creio que injustamente, de “fascista”. Sem querer entrar nos pormenores dos comentários de alguns intelectuais do país, vale ressaltar, que, muita das críticas feitas ao filme de Padilha, deveu-se a forma como a violência policial foi discutida em tal produção. Ao trazer para a tela do cinema as ações do BOPE, destacando a “eficiência” e “prontidão” com as quais executam suas missões sangrentas, o diretor ajudou a reforçar a idéia de que a única solução para o problema da violência é a “guerra pura”. Diante de uma Policia Militar corrupta e covarde, e de leis ineficazes, eis que surgem aqueles que serão responsáveis pela restauração da ordem que fora perdida: os anjos vingadores do BOPE. Certamente Padilha não tinha esse propósito, mas o que seria uma critica à violência policial, acabou provocando o efeito inverso, e agora vemos crianças pedindo para as suas mães uniformes semelhantes ao do batalhão. Bem vindo ao espetáculo da perversão nacional. Mas isso seria tema de uma outra discussão. Por enquanto meu interesse está no artigo de Reinaldo Azevedo que possui o intrigante título “Capitão Nascimento bate no bonde do Foucault”. Como sei que não vale a pena escrever uma réplica ao autor dessa baboseira sem tamanho, escrevo no blog para extravasar minha indignação perante a mediocridade de um setor imbecilizado da imprensa brasileira, que é bem maior do que imaginamos. No respectivo texto, o dito cujo teve a brilhante idéia de aproximar Immanuel Kant (Filósofo alemão iluminista do século XVIII) e o Capitão Nascimento (Personagem interpretado por Wagner Moura em Tropa de Elite). É tosco, mas é verdade. Para ele, o famoso Capitão se apresenta na pele de um “kantiano rústico” que está a procura de uma moral universalizaste, e que, ao contrário dos “intelectuais de esquerda” (como se todos os intelectuais que criticaram o filme fossem de esquerda...ridículo), não sofre de psicose dialética. Tropa de Elite apresenta o problema e a solução. Simples não? Mas pior do que essa comparação estapafúrdia, é o argumento que ele utiliza para indicar a verdadeira razão da inquietação dos intelectuais com o filme. Para o jornalista, eles sentiram-se ofendidos com a constatação de que o tráfico - assim como a violência decorrente do mesmo - é financiado pelos estudantes de classe média que infestam as universidades do pais, e que não abrem mão de seu “baseadinho sagrado”. Definitivamente não dar para levar a sério um sujeito como esse! Ele só pode ter complexo de inferioridade...talvez não conseguiu ser aprovado no curso de Filosofia e acabou tendo que optar por Jornalismo, ou então, sua namorada o trocou por um filósofo ou sociólogo, ou quem sabe seu pai foi um grande sociólogo? Será isso um parricídio? Seja qual for o motivo, seu argumento não deixará de ser leviano, perverso e reacionário. Reduzir um conjunto de críticas sérias a uma espécie de “estratégia de defesa”, do tipo, “temos que tirar o nosso da reta” é um atentado ao conhecimento produzido dentro das universidades do país. É jogar pelo ralo anos de estudo e de produção acadêmica sobre o fenômeno da violência. Mas Reinaldo não dá a mínima para esse tipo de conhecimento, para ele é bobagem...afinal de contas, de que adianta ficar divagando sobre teorias surreais quando precisamos de uma solução urgente e rápida? Para quê Foucault se temos o Capitão Nascimento? E por falar em Foucault, não podia deixar de destacar a total ignorância sobre a obra do filósofo francês, que, diga-se de passagem é chamada de “lixo” pelo nosso grande pensador da Veja. Ele chega ao ponto de afirmar que no livro Vigiar e Punir (1972), Foucault tem como propósito criticar os métodos coercitivos implementados pelo Estado para coibir a ação do transgressores da lei. E o que é mais grave, afirma que no respectivo livro, o filósofo sugere que os castigos físicos são melhores ou menos cruéis do que o disciplinamento dos corpos pela instituição prisional. Foucault deve estar até agora se contorcendo no caixão. Dentre os inúmeros absurdos, o que considero mais perigoso é o apoio desmesurado a barbárie como solução para o problema da violência, que é extremamente complexo. Isso sim é fascismo, aquele que Foucault define no prefácio de Anti-édipo de Deleuze e Guattari (1977), e que precisa ser combatido a todo custo: <strong>“o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora”.<br /></strong>Poderia escrever inúmeras páginas sobre esse atentado ao bom senso e a reflexão, mas acho que por enquanto estar de bom tamanho. Para concluir, gostaria apenas de dizer que, ao contrário do que nosso imbecilizado jornalista pensa, o "bonde do Foucault" continua firme e forte, pronto para novos desafios. Os cães ladram e a caravana passa...</div>João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5719483631026206651.post-84278272053452959592007-04-17T09:33:00.000-07:002007-04-17T16:13:23.731-07:00Sejam bem vindosApresento a todos os "espíritos livres" o meu espaço de devaneios e reflexões. Esse não é apenas um diário pessoal, mas um canal de acesso a diversas formas de experimentações vivenciadas por este que vos escreve. Tenham todos uma ótima viagem...João Bittencourthttp://www.blogger.com/profile/11488696448253436000noreply@blogger.com1