terça-feira, 23 de outubro de 2007


Sobre o tal "bonde do Foucault"


Um artigo escrito pelo jornalista e colunista da Revista Veja Reinaldo Azevedo a algumas semanas atrás, chamou bastante minha atenção. Trata-se de um texto comentando os supostos ataques de alguns intelectuais ao filme “Tropa de Elite”, de José Padilha, que vem sendo acusado, creio que injustamente, de “fascista”. Sem querer entrar nos pormenores dos comentários de alguns intelectuais do país, vale ressaltar, que, muita das críticas feitas ao filme de Padilha, deveu-se a forma como a violência policial foi discutida em tal produção. Ao trazer para a tela do cinema as ações do BOPE, destacando a “eficiência” e “prontidão” com as quais executam suas missões sangrentas, o diretor ajudou a reforçar a idéia de que a única solução para o problema da violência é a “guerra pura”. Diante de uma Policia Militar corrupta e covarde, e de leis ineficazes, eis que surgem aqueles que serão responsáveis pela restauração da ordem que fora perdida: os anjos vingadores do BOPE. Certamente Padilha não tinha esse propósito, mas o que seria uma critica à violência policial, acabou provocando o efeito inverso, e agora vemos crianças pedindo para as suas mães uniformes semelhantes ao do batalhão. Bem vindo ao espetáculo da perversão nacional. Mas isso seria tema de uma outra discussão. Por enquanto meu interesse está no artigo de Reinaldo Azevedo que possui o intrigante título “Capitão Nascimento bate no bonde do Foucault”. Como sei que não vale a pena escrever uma réplica ao autor dessa baboseira sem tamanho, escrevo no blog para extravasar minha indignação perante a mediocridade de um setor imbecilizado da imprensa brasileira, que é bem maior do que imaginamos. No respectivo texto, o dito cujo teve a brilhante idéia de aproximar Immanuel Kant (Filósofo alemão iluminista do século XVIII) e o Capitão Nascimento (Personagem interpretado por Wagner Moura em Tropa de Elite). É tosco, mas é verdade. Para ele, o famoso Capitão se apresenta na pele de um “kantiano rústico” que está a procura de uma moral universalizaste, e que, ao contrário dos “intelectuais de esquerda” (como se todos os intelectuais que criticaram o filme fossem de esquerda...ridículo), não sofre de psicose dialética. Tropa de Elite apresenta o problema e a solução. Simples não? Mas pior do que essa comparação estapafúrdia, é o argumento que ele utiliza para indicar a verdadeira razão da inquietação dos intelectuais com o filme. Para o jornalista, eles sentiram-se ofendidos com a constatação de que o tráfico - assim como a violência decorrente do mesmo - é financiado pelos estudantes de classe média que infestam as universidades do pais, e que não abrem mão de seu “baseadinho sagrado”. Definitivamente não dar para levar a sério um sujeito como esse! Ele só pode ter complexo de inferioridade...talvez não conseguiu ser aprovado no curso de Filosofia e acabou tendo que optar por Jornalismo, ou então, sua namorada o trocou por um filósofo ou sociólogo, ou quem sabe seu pai foi um grande sociólogo? Será isso um parricídio? Seja qual for o motivo, seu argumento não deixará de ser leviano, perverso e reacionário. Reduzir um conjunto de críticas sérias a uma espécie de “estratégia de defesa”, do tipo, “temos que tirar o nosso da reta” é um atentado ao conhecimento produzido dentro das universidades do país. É jogar pelo ralo anos de estudo e de produção acadêmica sobre o fenômeno da violência. Mas Reinaldo não dá a mínima para esse tipo de conhecimento, para ele é bobagem...afinal de contas, de que adianta ficar divagando sobre teorias surreais quando precisamos de uma solução urgente e rápida? Para quê Foucault se temos o Capitão Nascimento? E por falar em Foucault, não podia deixar de destacar a total ignorância sobre a obra do filósofo francês, que, diga-se de passagem é chamada de “lixo” pelo nosso grande pensador da Veja. Ele chega ao ponto de afirmar que no livro Vigiar e Punir (1972), Foucault tem como propósito criticar os métodos coercitivos implementados pelo Estado para coibir a ação do transgressores da lei. E o que é mais grave, afirma que no respectivo livro, o filósofo sugere que os castigos físicos são melhores ou menos cruéis do que o disciplinamento dos corpos pela instituição prisional. Foucault deve estar até agora se contorcendo no caixão. Dentre os inúmeros absurdos, o que considero mais perigoso é o apoio desmesurado a barbárie como solução para o problema da violência, que é extremamente complexo. Isso sim é fascismo, aquele que Foucault define no prefácio de Anti-édipo de Deleuze e Guattari (1977), e que precisa ser combatido a todo custo: “o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora”.
Poderia escrever inúmeras páginas sobre esse atentado ao bom senso e a reflexão, mas acho que por enquanto estar de bom tamanho. Para concluir, gostaria apenas de dizer que, ao contrário do que nosso imbecilizado jornalista pensa, o "bonde do Foucault" continua firme e forte, pronto para novos desafios. Os cães ladram e a caravana passa...

2 comentários:

Luis Antonio disse...

universalizaste... ñ seria universalizaNte?
Isso já basta para provar que eu tive o escroto de ler td sua prosa...
Besos

CotiCAFEdiano disse...

esse filme gera um realidade, nao mostra a realidade.
nhe, Veja. Pior que tudo que eh excutivo e dondonca tao falando a mesma coisa. Ate os que cheiram po.