quarta-feira, 17 de setembro de 2008


Time is progress? Time is illusion...


Você já teve a impressão de que o tempo está passando mais rápido? De que as 24 horas não são suficientes o bastante para realizar todas as atividades que programou durante o dia? Pois saiba que você está certo. Mas não foram as horas que diminuíram, o que mudou foi a maneira como nós estamos nos relacionando com o tempo. Muitos estudiosos, afirmam que tiramos o pé do freio e pisamos fundo no acelerador no início do século XIX, período que data o surgimento da Revolução Industrial. E, desde então, a palavra de ordem tem sido: acelerar. O trabalho - que antes era eminentemente artesanal -, migrou para o interior das fábricas, e conseqüentemente tornou-se o motor da engrenagem do sistema econômico que acabara de nascer. Logo, a velocidade tornou-se a principal aliada dos donos de indústria, que passaram a cronometrar o tempo de produção, visando maior lucratividade. E não foi apenas o tempo de produção que foi esquadrinhado. Mesmo fora da fábrica, o trabalhador passou a organizar a sua rotina tendo como referência as atividades desenvolvidas na indústria. Surgiu assim as noções de “tempo ocioso” e “tempo produtivo”, e desde então, é dessa maneira que organizamos nossa rotina. Não se pode precisar uma data para a origem do fenômeno da aceleração, porém, é consenso, que a guinada tecnológica proporcionada pela revolução industrial foi um grande potencializador do processo. Mesmo conhecendo a lógica perversa do fenômeno, aceitamos sem maiores concessões nossa sina de atleta velocista, e até desejamos isso. Não sabemos para onde estamos indo, nem onde fica a linha de chegada, mas isso não importa, a única coisa que devemos saber, é que precisamos chegar logo. A velocidade nos consome por todos os lados, ninguém quer perder seu precioso tempo com investimentos a longo prazo. Time is money! Time is progress!
Uma prática que nos permite, ou pelo menos permitia fugir dessa lógica predatória é a reflexão. Aquilo que muita gente insiste em chamar de “perda de tempo”. A imagem mais recorrente que eu tenho dessa prática está remetida a filosofia grega, ou para ser mais específico, à figura de Sócrates, o pensador por excelência, aquele que fazia de sua vida um exercício de contemplação incessante. Em nossos dias atuais, podemos dizer que a imagem de Sócrates está relacionada com a do “desocupado” que não tem o que fazer, por isso fica olhando para as estrelas num gozo ocioso. O pensamento tem que ser rápido, contemplação é para perdedores. Mesmo a universidade, que é conhecida popularmente como espaço de produção do “saber” (fiz questão de por saber entre aspas, pois entendo que nem todo conhecimento é saber), entrou na lógica da mercantilização do pensamento, ou seja, produção intelectual em série, cronometrada. Aquele que não produz num curto espaço de tempo, torna-se incompetente em potencial. Se no campo supostamente “intocável” da reflexão, o processo é semelhante ao das indústrias, o que dizer do nosso cotidiano? Em contraposição a imagem do pensador contemplativo, apresento a imagem patética do indivíduo diante de seu computador chateado porque o email está demorando a abrir. Dois tempos completamente diferentes. Aíon versus Cronos. Certamente, estou levando em consideração o processo de desterritorialização brutal que atinge em cheio todos os seres humanos, reconfigurando novos mapas subjetivos, traçando novas linhas desejantes. Não sou um neo-ludita, que abomina o contato com as novas tecnologias, sonhando com o retorno de um paraíso que nunca existiu, a não ser para os “românticos” de plantão. A questão é: o que fazemos com tanta velocidade? Bom, gostaria de escrever um pouco mais sobre essa questão, mas não posso “perder tanto tempo” com o texto de um blog não é mesmo?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008


Homenagem


Esta semana resolvi falar de algo mais leve, que não tem relação nenhuma com Filosofia, Psicanálise, Sociologia e/ou Antropologia. Bom, relação até tem, afinal de contas, se o pensador esloveno Slavoj Zizek consegue extrair exemplos de desenhos animados, porque eu não poderia fazer um esforço semelhante e analisar um seriado de tv como “The Wonder Years”? A resposta é simples: porque eu não quero. Tenho certeza, que muitos daqueles que têm minha idade ou uma idade aproximada, já ouviram falar de um tal seriado chamado “Anos Incríveis”, que no início dos anos 90, ia ao ar todas as noites, por volta das 19:30 na TV Cultura. Aposto que nomes como Kevin Arnold, Winnie Cooper e Paul Pfifer soam familiares não é mesmo? Talvez alguns perguntem: Mas por que cargas d'água o João está escrevendo sobre esse seriado bobo? Eu diria que por razões bem simples. Primeiro, não acho que ele seja bobo, o que significa dizer, que seu comentário em relação ao mesmo não diz muita coisa sobre minha relação com o seriado. Segundo, porque essa semana bateu uma vontade de escrever sobre algo diferente para o padrão do blog, e terceiro – e que para mim é a resposta mais coerente -, porque este seriado tem um significado especial para mim. Quem já teve oportunidade de assisti-lo sabe que “The Wonder Years” era ambientado num subúrbio dos Estados Unidos na década de 60, e retratava o cotidiano de uma típica família americana, e a relação desta com os grandes acontecimentos que marcaram a respectiva década, como a guerra do Vietnan, a revolução sexual (se é que posso usar essa expressão), a luta por direitos civis de negros e mulheres, a explosão do movimento hippie, etc,...Mas não era por retratar esses acontecimentos que o seriado tinha e tem um significado especial para mim. Na época que comecei a assisti-lo, por volta de meus 16/17 anos, nem fazia essa conexão entre os dramas da familia e os acontecimentos políticos e culturais nos quais ela estava inserida.
Acredito que meu fascínio estava relacionado com a forma pela qual as pequenas coisas do cotidiano eram expostas no seriado. Quem de nós não teve um professor ou professora especial? Uma paixão adolescente? Um grupo de amigos/as inseparáveis? Era quase impossível não se identificar com algumas situações vivenciadas pelo jovem Kevin Arnold. A trilha sonora que acompanhava o desenrolar das histórias também mereceria uma postagem à parte, tendo em vista a seleção de “pérolas” que desfilavam todas as noites, à começar pelo tema de abertura “With a little help for my friend” na voz de Joe Cocker, versão esta, que na minha opinião, é bem melhor que a original dos Beatles. O engraçado disso tudo, é que mesmo agora, perto dos 30 anos, continuo me emocionando com o seriado da mesma maneira que a 12 anos atrás. Não se trata de saudosismo, de ficar remoendo um passado recente, mas de uma sensação boa que me invade sempre que assisto algum episódio. Sei que esses detalhes provavelmente não terá nenhuma importância para você, que está lendo esse texto, mas isso pouco importa, meu propósito não era convencê-lo de que “Anos Incríveis” foi o melhor seriado de tv de todos os tempos. Considero essas poucas palavras uma pequena homenagem a meu devir-menino, que não cessa de me me brindar com agradáveis surpresas.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008


Algumas proposições sobre o devir-alcoólatra


Em sua famosa entrevista concedida a Claire Parnet que ficou conhecida como ABCedário, Gilles Deleuze versa sobre os mais diferentes temas: da animalidade ao desejo, da infância ao cinema, da familia à amizade, com a serenidade que é peculiar a todos àqueles que fazem da filosofia um exercício cotidiano. Dentre as muitas letras do alfabeto, escolhi a letra “B” para ser o fio condutor desse minha nova reflexão inacabada, pois é nesse momento da entrevista que o filósofo fala de sua relação com a “B”ebida. Todos aqueles que conhecem um pouco da história de Deleuze, sabem de sua relação com o álcool, e de como essa mesma substância quase o impediu de fazer aquilo que mais gostava: pensar. O que estimulava a produção de conceitos em um outro momento acabou se convertendo em um mecanismo inibidor. O alcoólatra, diz Deleuze, "nunca para de beber, nunca para de chegar a última bebida", a última bebida nesse sentido, é o último copo que seu corpo consegue suportar. Antes que alguém pense que os comentários do filósofo acerca da bebida tem uma ponta de ressentimento devido a condição de abstêmio que desfrutava na época, afirmo que Deleuze jamais agiria dessa maneira. O que o autor expôs em sua fala é que existem formas diferenciadas de se relacionar com o álcool, e que ele só pode ser considerado um potencializador da criatividade quando “ajuda a perceber que existe algo demasiadamente forte na vida”, citando como exemplo, a relação que alguns escritores mantinham com a bebida, entre eles, Thomas Wolfe, Fitzgerald, Henry Miller, entre outros. Deleuze sempre foi um grande admirador dos escritores anglo saxões, e nunca escondeu que preferia estes aos franceses, talvez pelo fato deles serem estrangeiros na sua própria língua. Para além da admiração pelos textos, existia uma admiração pela vida que estes escritores imprimiam no papel, uma vida que não era ficção, mas expressão de múltiplos devires: devir-minoritário, devir-mulher, devir-alcoólatra.
Ao mesmo tempo que o filósofo comenta sobre a produção de um corpo sem órgãos resultante da relação homem/álcool, percebe-se uma certa cautela em sua fala, como se este devir-alcoólatra tivesse um limite. Não que Deleuze estivesse reproduzindo o slogan “beba com moderação”, longe disso. A idéia era justamente mostrar que a linha de fuga produzida no ato de embriaguês pode se converter em linha dura, molar, levando ao desejo de morte. Penso que existe uma enorme confusão em relação a algumas práticas tidas como liberadoras, mas que na verdade fazem o sentido inverso. Já se tornou lugar comum entre alguns intelectuais e artistas falarem das drogas com um certo “algo a mais entre os dentes”, podemos citar os escritos de Baudalaire, Castañeda, e até mesmo do próprio Nietzsche. Não que esses autores façam apologia ou glamourizem o consumo de certas substâncias. O problema é a “lenga-lenga” de alguns que se utilizam de certos argumentos chavões pseudo-filosóficos para afirmar que é preciso “beber todas” para elevar as idéias. E o que dizer da embriaguês transloucada de Charles Bukowski e as viagens surreais de Jack Kerouac produzidas pela ingestão de peyote? Aqui já fiz menção a outras substâncias “entorpecentes”, o que não muda o foco da discussão, uma vez que a idéia é sair do estado de sobriedade. Para além de um moralismo gorduroso que impregna o discurso dos policiais do desejo, as questões que trago para pensarmos é: em quais circunstâncias é possível devir-alcoólatra? Todos devém ou trata-se de um privilégio de poucos? E o seu Joaquim, que bebe umas e outras e depois chega em casa quebrando tudo? Quando o álcool supõe captura? Não tenho respostas para essas questões...um bom vinho para refletir um pouco...talvez.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008



Corpo marcado, ordem restituída


Grande segmento da população acredita que a maneira mais adequada de coibir a ação dos “transgressores da lei” e minimizar a violência urbana, é reprimindo da forma mais agressiva possível esses indivíduos, pois segundo os mesmos, a lei é “muito generosa com os criminosos”. Os representantes do Estado, pressionados pela opinião pública, acabam também agindo “emocionalmente” e em conformidade com o discurso apelativo de uma população assustada, confundindo por sua vez o papel de cidadão com o de autoridade. Hannah Arendt (1994) nos mostrou que o aumento da ineficiência da polícia está acompanhada do aumento da brutalidade policial, e ao que tudo indica, o uso da força/ violência legítima nas sociedades contemporâneas tem se revelado meio insuficiente e ineficaz para combater a violência urbana. Tentar extirpar o mal da sociedade a todo custo através da imputação de castigos dos mais diversos não é algo comum apenas a sociedades específicas, está presente em todas as culturas, como elemento fundador, que organiza e dar sentido a vida social dos indivíduos. Quando me refiro a uma violência fundadora, não estou querendo reproduzir a idéia de uma estrutura inconsciente como afirmariam os estruturalistas, ou mesmo como um instinto que produziria “indivíduos maus por natureza”, falo de algo presente na gênese das sociedades, como disposições corporificadas, internalizadas, e que constituem por sua vez, o habitus (para usar um conceito do sociólogo Pierre Bourdieu) desses indivíduos, através da assimilação de uma cultura da violência. A punição, que se constitui como a imputação de castigos físicos sobre o corpo e que tem como objetivo a restituição de uma ordem que fora perdida aparece como prática legítima em nossa sociedade, herança deixada de pai para filho, reproduzida através das instituições socializadoras. Aprendemos à custa de uma “pedagogia do medo” que a melhor maneira de educar nossos filhos é dando-lhes palmadas, fazendo com que os mesmos reconheçam desde cedo que o respeito e os “bons costumes” são adquiridos através de intervenções sobre o corpo. Segundo Caldeira (2000) “A marcação sobre o corpo pela dor é percebida como uma afirmação mais poderosa do que aquela que meras palavras poderiam fazer e deveria ser usada especialmente quando a linguagem e os argumentos racionais não são entendidos”.
Em nossas escolas, por muitas décadas, foi comum o uso da palmatória como instrumento de correção para alunos tidos como “indisciplinados”. Lembro das histórias contadas por meu pai que relembra com um certo saudosismo da época em que a tabuada era apreendida através da dor e sob o consentimento dos progenitores, que concordavam com tal atitude. Como podemos perceber, não nos admira que em nossa sociedade, indivíduos concordem com práticas punitivas, classificando-as como necessárias e ideais ao controle da violência. Nas delegacias e presídios de todo o país continuam a se repetir as mesmas cenas de um passado não muito distante, e que muitos brasileiros ainda trazem marcado em seus corpos.
A “violência policial” já não é mais entendida como procedimentos repressivos legais que garantiam por sua vez a segurança e tranqüilidade dos cidadãos, cada vez mais ela se configura como um conjunto de práticas ilegais cometidas por indivíduos que utilizam sua farda para impor regras de conduta de maneira despótica. Existem inúmeras pessoas em nosso país que não conseguem distinguir “controle de violência” e “abuso de violência”, o que acaba colaborando para a intensificação dessas práticas ilegais. Muitas vêem esse modo de agir da polícia como procedimento legal, que faz parte do “trabalho da policia”, com isso, espancamentos e outras diversas formas de violência deixam de ser denunciadas.


ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
CALDEIRA, Teresa P. do Rio. Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34/ Edusp.

segunda-feira, 14 de julho de 2008


Animal, demasiadamente animal...

Existem livros que mudam completamente nossa relação com o mundo. Textos que nos deixam marcas profundas no ser (aqui, sem nenhuma conotação metafísica), e que nos leva a pensar sobre determinadas questões que cotidianamente passam desapercebidas. Para provocar uma ebulição em nossas entranhas (faço questão de usar “entranhas” para demarcar o lugar da animalidade em nossa vida) não é preciso mais que 100 páginas. É claro que não estou querendo desmerecer os clássicos de Tolstoi, Dostoievsk, Guimarães Rosa, Proust, e inúmeros outros, que possuem algumas centenas de páginas. O que pretendo explicitar, é que não são os números de páginas que definem uma grande obra, mas sim, a força com que as palavras chegam até nós. Acabei de ler um livro com menos de 100 páginas do filósofo argelino/francês Jacques Derrida, e posso dizer sem pestanejar, que foi uma das experiências mais incríveis que tive nos últimos meses, para não dizer anos.
Já conhecia outros textos do filósofo, que se tornou mundialmente reconhecido pela crítica à Jacques Lacan e a sua idéia de centralidade da estrutura (todo significado precede de um significante central). Sempre fui admirador de Derrida e de seu pensamento desconstrucionista, mas até então nunca tinha me aventurado a ler um livro inteiro desse autor. Ficava adiando, esperando o momento ideal, até que um belo dia, em belo horizonte (gostaram do trocadilho), quando participava de um evento nesta cidade, me deparei com um pequeno livro intitulado “O animal que logo sou”. Me apaixonei pelo título imediatamente. Lembrei que o autor algumas vezes escrevera sobre a relação dos seres humanos e não-humanos, mostrando que existia um principio ordenador da realidade que traçava uma hierarquia entre essas duas formas de vida. Deduzi que o livro abordava o tema da alteridade, da dificuldade de se reconhecer na figura do animal não-humano. Suposição que mais tarde veio se confirmar durante a leitura do livro. Derrida falava realmente da relação entre humanos e não-humanos, tecendo criticas contundentes a arbitrariedade do sistema de classificação lingüístico.
O que mais me chamou atenção, foi a maneira como o filósofo foi afetado e incitado a escrever esse texto. Num dia comum, ao sair do banho, ainda nu, Derrida se deparou com o olhar fixo de seu gato de estimação. Foi a partir desse olhar, ou melhor de uma troca de olhares, já que se trata de uma relação, que ele se viu indagado - e incomodado - a pensar sobre as idéias de “animalidade” e “ser vivente”, temas centrais da discussão proposta. Idéias que também já foram trabalhadas por outros filósofos como Heidegger e Lévinas, duas das maiores influências do filósofo francês.


Mal estar de um animal nu diante de um outro animal, assim, pode-se-ia dizer uma espécie de animal-estar: a experiência original, única e incomparável desse mal-estar que haveria em aparecer verdadeiramente nu, diante do olhar insistente do animal, um olhar benevolente ou impiedoso, surpreso ou que reconhece. Um olhar de vidente, de visionário ou de cego extralúcido. É como se eu tivesse vergonha, então nu, diante do gato, mas também vergonha de ter vergonha. (Derrida, 2002:16).


Neste momento, o filósofo se viu impelido, a ter que questionar, a sua vergonha, a sua nudez, a sua humanidade. Sentimentos que o afastavam do animal que estava diante do seus olhos, e da animalidade que se encontrava adormecida, esquecida no seu próprio recôndito, e que agora se revelava em toda sua grandeza por intermédio de uma experiência sensível. Do ponto de vista da experiência e dos afetos, o que existia naquele momento eram apenas dois animais nus, ou melhor, um animal, o próprio Derrida, já que o bichano não possui o sentimento de sua nudez. E foi nessa troca de afetos, potencializada pela sensação de encontrar-se nu diante de outro animal nu, que o filósofo passou a questionar sua condição de ser vivente. Quem sou eu, se animal é tudo que somos?


Quem sou eu então? E quem é este que eu sou? A quem perguntar senão ao outro, E talvez ao próprio gato? (pg. 18).


DERRIDA, Jacques. O Anima que logo sou. São Paulo: UNESP, 2002.

quinta-feira, 20 de março de 2008


Admirável mundo velho


Não sei se este blog é visitado com muita freqüência, já que não vejo muitos comentários sobre os textos publicados, mas de qualquer forma acredito que alguém deve tê-lo visitado semana passada, e certamente deve ter percebido que não havia nenhuma novidade. Não sei se continuarei publicando textos todas as semanas, pois estou bastante ocupado com atividades de pesquisa, o que me exige dedicação exclusiva. Bom, mas o texto que pretendo publicar essa semana não é uma resenha sobre minha vida acadêmica, não quero matar vocês de tédio. Vou falar sobre religião, ou melhor, sobre o controle que uma única religião exerce sobre nossas vidas. Nada mais apropriado que aproveitar esse feriado da páscoa para escrever algumas linhas não é mesmo? Na semana que postei o último texto, dois acontecimentos chamaram minha atenção, principalmente por ambos estarem relacionados com o cristianismo e para ser mais específico, com o catolicismo: o embate jurídico em torno da liberação de pesquisas com “células-tronco”, e a instituição de novos pecados pelo vaticano. Mesmo com a suposta laicização do Estado, a igreja católica não para de “meter o bedelho” onde não é chamada, dando provas que apesar de todo o progresso tecnológico não saímos da idade média. A queda de braço entre religião x ciência não é nenhuma novidade, dado que esta nasceu com a proposta de “desencantar o mundo”, afastando todas as superstições que obnubilavam a possibilidade de uma compreensão racionalizante da realidade. Apesar de ser um cientista social, não sou um apologista da ciência, e tenho inúmeras críticas à maneira como a mesma tem sido (estar sendo) desenvolvida, porém é inegável que ela proporcionou uma leitura diferenciada do mundo, mostrando que os fenômenos - sejam eles naturais ou sociais – possuem uma explicação racional (nem tão racional como pensam alguns cientistas), contrariando o pensamento religioso, que dá aos mesmos atributos sobrenaturais.
A questão não é saber se Deus existe, ou muito menos, se é ele realmente quem dá as ordens por aqui, e sim qual a influência desse pensamento na vida política dos seres humanos. Ao meu ver, não existe nenhum problema em acreditar em Deus, no paraíso, na santa igreja, a não ser quando essas crenças interferem diretamente na vida dos indivíduos, decidindo o que é melhor para eles, sem consentimento prévio. Como se não bastasse a proibição do uso de preservativos, o que colaborou de forma decisiva para o aumento da miséria no país, e conseqüentemente com o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, ela recentemente jogou um “balde de água fria” nos sonhos de paraplégicos e tetraplégicos, alegando que as pesquisas com células embrionárias é um “atentado a vida”. Como se o impedimento da possibilidade de cura de certas doenças cardiovasculares e/ou neurodegenerativas também não se configurasse como um atentado à vida. Até quando seremos reféns de um conjunto de crenças anacrônicas que não tem implicação nenhuma sobre nossa existência cotidiana, e que além do mais, só serve para nos encher de culpa? Será que já não chegou o momento de darmos um basta nas atrocidades da igreja católica? Na mesma semana que uma audiência decidia o futuro das pesquisas com células embrionárias, me deparei com uma notícia não menos aterrorizante, principalmente se levarmos em consideração que estamos no século XXI. O Papa Bento XVI, juntamente com o conselho do Vaticano cria uma lista com novos pecados. Eles devem ter chegado a conclusão de que aqueles que nos acompanharam durante séculos não eram suficientes. Agora o tabagismo e a poluição ambiental também são pecados, ou seja, ninguém mais estará livre do “lago de fogo”. Todas as vezes que usarmos um desodorante spray, ou viajarmos em algum veículo que faça uso de combustível, estaremos dando passos em direção ao inferno. Rio para não chorar! Essa noticia só veio reforçar ainda mais a afirmação de que o progresso é apenas uma ilusão, e que apesar de nos considerarmos “seres evoluídos”, continuamos repetindo os mesmos erros de outrora.

sexta-feira, 7 de março de 2008


Ao invés de falo, útero!


Estamos no mês de março, aquele que é reconhecidamente o mês da mulher. Nada mais justo que escrever algumas linhas sobre aquelas, que apesar de terem conseguido um suposto reconhecimento nas últimas décadas, continuam sendo alvo de inúmeras injustiças, em muitos casos sendo até mesmo alijadas da condição de ser humano. Quem não lembra do caso Sirley? Os jovens que a espancaram disseram em depoimento que a haviam confundido com uma prostituta (como se o fato de espancar uma prostituta não tivesse nenhuma importância). Não tenho dúvida que sobre suas cabeças imbecilizadas paira a idéia de que uma mulher que “vende seu corpo” não é digna de respeito e muito menos de compaixão. Talvez alguns digam que se trata de um caso isolado, e que o incidente estar relacionado com o aumento da delinqüência juvenil nos últimos anos. Eu particularmente, penso em tudo isso como um sintoma de uma sociedade que não para de reproduzir a desigualdade entre os gêneros. Em cada marca deixada no corpo de Sirley há um pouquinho de cada brasileiro. Não significa dizer que todos os homens brasileiros são machistas, mas sim que existe uma cultura machista disseminada em nossa sociedade, e que é responsável pela construção de uma representação arbitrária sobre as mulheres, e o que é pior nos autoriza enquanto homens subjuga-las aos nossos interesses. De uns tempos para cá, tornou-se lugar comum dizer que as mulheres aos poucos estão conseguindo ocupar espaços que até então eram ocupados privilegiadamente por homens. Mas ao meu ver, isso não diz muita coisa sobre a maneira como as mulheres estão sendo tratadas cotidianamente. O fato de elas agora estarem atuando como motoristas ou metalúrgicas, não fez desaparecer a estrutura de dominação que as aprisiona historicamente. Marilena Chauí, certa vez afirmou não entender o porquê das mulheres quererem tanto se inserir no mercado de trabalho. Para ela, trata-se de uma luta pelo direito de serem exploradas igualitariamente, do tipo, “se os homens podem, nós também podemos”. Ao meu, faz sentido a afirmação da filósofa, até porque não é simplesmente a independência financeira que irá alterar a percepção masculina sobre o feminino. Mas por favor, não pensem que sou contra essas poucas oportunidades que de alguma forma melhoram a condição da mulher em nossos dias, pelo contrário, se estou escrevendo isso, é porque acredito que elas merecem o melhor, assim como todos os seres que habitam esse lugar chamado terra. Dependência financeira é um problema sim, e não é pequeno. Existem inúmeros casos de mulheres que se submetem a uma vida de sofrimento ao lado de um parceiro violento, por não possuírem condições financeiras de sustentarem a sí e seus filhos. Essa é uma questão extremamente delicada, e que merece toda nossa atenção. Mas como já havia falado no início do texto, a carência não é apenas material, é também afetiva e porque não dizer simbólico -imaginária, uma vez que as mulheres precisam ser pensadas dentro de um novo imaginário, que as retirem da condição de seres inferiores, e destrua de vez o falso binarísmo masculino/feminino.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008


A tal da Neurociência...


Há quem diga que a televisão é um veículo informacional extremamente desnecessário, e que sua única finalidade é alienar a grande massa que se deixa fascinar pelo brilho que emana de sua tela. O que de certa maneira faz algum sentido, se refletirmos sobre como as informações veiculadas por esse aparelho possuem impacto significativo no cotidiano de milhões de pessoas. Mas os seres humanos não são apenas “zumbís teleguiados” como insistem em afirmar os críticos mais radicais da cultura televisiva. Até porque a informação é apenas um dado bruto, somos nós que damos sentidos a ela, através do capital cultural (parafraseando Bourdieu)que cada um possui. Mas por que estou falando sobre isso mesmo? Lembrei! Domingo passado, cheguei em casa quase ás 22:00, liguei a TV e estava passado o Fantástico. Fui fazer outras coisas e fiquei apenas ouvindo as noticias apresentadas naquela noite. Uma delas me chamou bastante atenção, ou melhor, me deixou de cabelo em pé. Apresentava mais uma das descobertas da Neurociência. Vocês já perceberam o quanto esta ciência tem sido requisitada atualmente? Você liga a tv lá estão os neurocientistas, folheia uma revista científica e lá estão os neurocienstistas, eles são chamados para falar desde o efeito dos psicoativos na mente humana, até a influência dos Teletubies na sexualidade infantil. Um outro dia lí na capa da Scientific American: “O inconsciente existe: neurocientistas descobrem uma área do cérebro onde provavelmente está situado o inconsciente”. Poucas pessoas davam bola para a idéia de inconsciente apresentada por Freud, mas com esse achado dos neurocientistas, a coisa pode mudar de figura. Mas voltando a matéria do Fantástico...ela comentava sobre uma recente técnica cirúgica que estava sendo introduzida no país, e tinha como objetivo corrigir pequenos distúrbios psíquicos como tiques nervosos, transtornos obsessivos, e pasmem, curar depressão. Imediatamente pensei: “mas depressão é uma doença da alma”, não me refiro ao sentido metafísico de alma, mas a um distúrbio psico-social de natureza extremamente complexa. Como curar uma ferida que se encontra na subjetividade dos indivíduos? Esse tipo de cirugia em pacientes depressivos, é bastante comum nos EUA, e ainda não foi testada no Brasil. Por aqui ela foi testada em pacientes que sofrem de “tique nervoso”, o que não é menos assustador. Fiquei pensando nesses indivíduos que se submetem a processos dessa natureza para alcançarem momentos de felicidade. Aqueles que concordam com a afirmação de que a prática psicanalítica impede que o sujeito construa um discurso autônomo sobre sua subjetividade, deve ter repensado seus conceitos após assistir esta matéria. Se Michel Foucault fez uma relação entre o consultório psicanalítico e o confessionário religioso, fico pensando qual seria a comparação feita pelo filósofo em relação as clinicas neuro-cirúgicas. Talvez ele pensasse no Frankestein de Mary Shelley, ou quem sabe “Laranja Mecânica” de Kubrick. Fico pensando daqui alguns anos, intervenção médico-cirúgica para a correção do caráter, para a normalização da conduta sexual, para a diminuição da agressividade, para a repressão dos desejos. Orwell, Huxley, Borroughs não estavam certos sobre o futuro da humanidade? Outro dia, assisti no mesmo programa de TV uma discussão sobre ética e ciência. A questão era a seguinte: É ético mapear o cérebro de adolescentes que haviam cometidos crimes de assassinato? A pesquisa tinha como objetivo entender o funcionamento da mente de um “assassino”, e mais ainda, poderia apontar caminhos de coibir o desvio, ou tendência criminosa ainda na sua origem. Alguns neurocientistas (de novo eles) afirmam que existe uma disfunção no cérebro dos indivíduos criminosos que o acompanham desde o nascimento. Se essa “moda pega”, não demorará muito para vermos crianças sendo arrancadas do colo de suas mães e sendo enviadas para centros de correção, ou quem sabe a instalação de chips. Uma pesquisa de opinião feita pelo programa na mesma noite, constatou o que eu já esperava: a maioria dos brasileiros concorda que não existe nenhum problema em fazer pesquisas com jovens infratores, e que a mesma poderia ajudar no combate da criminalidade. Não é difícil entender a receptividade da população, afinal de contas são “vidas descartáveis”, não merecedoras de compaixão.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008


Qual a liberdade que te satisfaz?


Esta semana o mundo inteiro foi sacudido pela notícia da renúncia do líder cubano Fidel Castro. Depois de 49 anos à frente daquela considerada até hoje a única nação “verdadeiramente” socialista, Fidel afirmou em carta aberta a população, o seu desligamento da função de chefe político. Particularmente, isso não me causou muito espanto, uma vez que o pobre homem vinha enfrentando inúmeros problemas de saúde, comuns a grande parte dos seres humanos com idade muito avançada. Como já era de se esperar, setores ultra conservadores da direita no mundo todo deram depoimentos sobre a renúncia do líder cubano, afirmando que esse gesto simbólico foi o primeiro passo para uma possível “democratização” do país. Figuras como Nicolas Sarkozy, George Bush, Tasso Jereissati, entre outros (todos farinha do mesmo saco), encheram a boca para falar de “democracia” como se fossem autênticos porta vozes da liberdade. A união européia já pensa em reatar os acordos econômicos com Cuba, e os Estados Unidos, dizem que estão dispostos a trabalhar pesado no processo de “redemocratização” do país, ou seja, introduzir a economia de mercado e diminuir o papel do estado cubano enquanto garantidor do bem estar da população. Devo dizer de antemão que não sou adepto do Socialismo - ao menos das experiências que foram até hoje desenvolvidas sob o nome de Socialismo em alguns países - e nem tampouco, percebo Fidel como um “exemplo” de governante (não que eu esteja em busca de “exemplos” ou de “governantes”, se é que vocês me entendem). Que ele é uma espécie de “mito vivo”, como afirmou o presidente Lula isso eu não discordo, uma vez que a história nos ensina a cultuar líderes. Mas isso não vem ao caso agora. Bom, mesmo não concordando com a política desenvolvida em Cuba, é impossível ficar calado diante da arbitrariedade com que a palavra Democracia é utilizada por esses indivíduos. Se a Ilha de Fidel não é democrática, não venham me dizer que um país como os EUA, que apóia práticas de torturas nas confissões de presos políticos pode ser definido como tal, isso para dar um exemplo somente no âmbito interno, porque se eu fosse falar de política externa... Concordo que devemos ter nossa liberdade assegurada, mas não esse tipo de liberdade que nos oferecem como uma das maiores conquistas do homem, e que numa sociedade capitalista significa “liberdade” para poder consumir a tecnologia mais avançada, ou “liberdade” para poder disputar uma melhor posição na escala social. Não seria interessante refletir sobre que tipo de liberdade queremos para as nossas vidas? Não se trata de fazer uma defesa do Socialismo, afirmando que a liberdade de todos é mais importante que a liberdade de um indivíduo. Para mim a anulação dos desejos e vontades singulares em nome de interesses coletivos é um atentado à vida. Talvez muitos argumentem que é justamente por eu viver num país “democrático”, que estou podendo me expressar dessa maneira, e que ao contrário, se vivesse numa ditadura, em Cuba por exemplo, teria meus direitos caçados. Tudo bem, talvez até vocês tenham razão, mas é daí? Quer dizer que “ser livre” se restringe a poder expressar seus pensamentos num pedaço de papel, ou no ciberespaço nesse caso em específico? Ou então poder ir a um supermercado e ter a liberdade de escolher entre Skol ou Haineken? Ou ainda, poder escolher morrer de fome ou numa cadeia? Peço desculpas por contrariá-los, mas definitivamente estou dispensando essa dádiva dos modernos. Nos contentamos com muito pouco mesmo não é? Basta que nos dêem o mínimo permitido para que fiquemos satisfeitos. A algumas semanas atrás lí um livro bem interessante, chamado A arte de viver para as novas gerações, do pensador francês Raoul Vaneigem, não vou falar sobre o livro para não estragar a surpresa, mas posso dizer que se trata de uma espécie de “tratado subversivo em prol da autonomia dos indivíduos”. Deixo vocês com uma das passagens do livro que considero crucial para os questionamentos feitos acima:

[...] Uma ética inteira fundada sobre o valor da troca, o prazer dos negócios, a honra do trabalho, os desejos reprimidos, a sobrevivência, e sobre seus opostos, o valor puro, o gratuito, o parasitismo, a brutalidade instintiva, a morte: é esse o ignóbil caldeirão no qual fervem as faculdades humanas há quase dois séculos (VANEIGEM, 2002:38).


VANEIGEM, Raoul. A arte de viver para as novas gerações. São Paulo: Conrad Editora, 2002.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008


Política com “P”

A palavra Política, assim como a idéia que a compreende, surgiu na Grécia Antiga, para definir o conjunto de ações implementadas para a gestão da Pólis (cidade grega). Isso não significa dizer que esses procedimentos tinham por objetivo apenas os interesses da cidade-estado, ou seja, a um conjunto de leis construídas com o intuito de governar (no sentido de exercer poder) uma população, pelo contrário, eles estavam relacionados a todos os aspectos da vida comunitária, a tudo que dizia respeito ao bem estar do cidadão ateniense. Acontecimentos triviais da vida em grupo eram postos em discussão na Ágora, uma espécie de praça pública onde eram decididas coletivamente, as leis que guiariam os rumos de toda a população. Mas meu interesse não é discutir a concepção clássica de Política, até porque isso já está presente nos inúmeros livros de Filosofia ou de História Antiga, meu objetivo é refletir sobre os rumos da política contemporânea, ou melhor, sobre degradação da Política em sua acepção original, e o conseqüente aparecimento da política com “p”. Não vou ficar aqui reivindicando o retorno à Pólis grega, ou à democracia ateniense, o que seria um devaneio diante de um contexto histórico como o nosso, afinal de contas cada época possui suas significações sociais específicas. Quero apenas expor de maneira extremamente resumida como nossa concepção atual de política se assenta sobre a negação daquilo que ao meu ver é o sentido da Política: o “cuidado do outro”. É sabido que em nossa sociedade moderna existe uma divisão entre esfera pública e privada, a primeira compreendendo os interesses da população de uma maneira geral, e a segunda os interesses de um grupo específico. Certamente estou fazendo uma leitura grosseira, já que a divisão entre essas duas instâncias não é tão simples assim quanto se imagina. Pois bem, conforme falei anteriormente, a idéia de Política em sua acepção clássica, abrange os interesses de toda a população, independente da posição que cada um ocupa na sociedade. É claro que na democracia ateniense, mulheres e escravos eram impedidos de participar das discussões na Ágora, mas essa é uma outra discussão, voltemos a proposta do texto. Em nosso atual contexto, a idéia de política passou a corresponder as ações desenvolvidas pelo Estado para uma parcela “exclusiva” da população, ou seja, os assuntos relativos à cidade, à pólis, deixou de ser do interesse de todos. O apartheid social instaurado nas cidades modernas, mostra perfeitamente esse desinteresse das camadas mais abastadas da população por tudo que é público. O surgimento de condomínios luxuosos, espaços residenciais dotados dos mais diversos serviços como escolas, hospitais, comércio, lazer etc, é o reflexo dessa aversão à vida na cidade. Na introdução de Vidas Desperdiçadas (2005), o sociólogo polonês Zygmunt Bauman cita uma passagem bastante interessante do livro Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino. Das muitas cidades descritas por Calvino, uma em específico chama a atenção de Bauman, ela se chama Leônia. Os habitantes de Leônia tem por hábito consumir inúmeros produtos, “as novidades mais quentes do momento”, dessa forma produzem uma quantidade de lixo surpreendente. Todas as manhãs o carro do lixo vem apanhar as sobras do dia anterior, o que faz um estranho como Marco Polo, intuir se a “verdadeira paixão dos leonianos”não seria o prazer de expelir, descartar...Distante da cidade, uma enorme montanha de lixo é formada, mas ninguém se preocupa com a mesma, “a não ser quando uma rara golfada de vento leva a seus lares novo em folha um odor que lembra um monte de lixo(...)”. Assim como os leonianos, uma parcela da população não percebe os problemas da cidade, a não ser quando eles batem à sua porta. Dessa maneira, a idéia de política, assume cada vez mais uma conotação local, a política com “p” na qual me referi acima. Vejamos o exemplo da violência, ela só se torna problema de todos, Política com “P”, quando ela invade um espaço delimitado da cidade, habitado por “pessoas que não estão autorizadas a morrer”. Enquanto ela se aglomera nas periferias da cidade, vitimando seres anônimos, é um problema só deles. Enquanto os problemas da cidade ficarem alheios a uma parcela da população, aquela que não possui território fixo, continuaremos sob o domínio da política com “p”.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

É hora de voltar a ativa...

Depois de uma temporada de férias em minha cidade natal, estou de volta com as baterias recarregadas e com a língua mais afiada do que nunca, ou melhor, os dedos. Enquanto grande parte da população se esbaldava nos 4 dias de folia, eu estava recluso em meu apartamento terminando um artigo, que me custou alguns neurônios. Estou brincando, foi extremamente prazeroso escrevê-lo. Mas isso não vem ao caso, o que importa é que estou de volta, e com fôlego renovado. Espero que esse ano seja bem mais produtivo (do ponto de vista qualitativo) do que ano passado, e que as profecias dos chineses em relação ao “Ano do Rato” não se confirmem. Mas chega de “conversa fiada”, é hora de voltar a ativa!