sexta-feira, 7 de março de 2008


Ao invés de falo, útero!


Estamos no mês de março, aquele que é reconhecidamente o mês da mulher. Nada mais justo que escrever algumas linhas sobre aquelas, que apesar de terem conseguido um suposto reconhecimento nas últimas décadas, continuam sendo alvo de inúmeras injustiças, em muitos casos sendo até mesmo alijadas da condição de ser humano. Quem não lembra do caso Sirley? Os jovens que a espancaram disseram em depoimento que a haviam confundido com uma prostituta (como se o fato de espancar uma prostituta não tivesse nenhuma importância). Não tenho dúvida que sobre suas cabeças imbecilizadas paira a idéia de que uma mulher que “vende seu corpo” não é digna de respeito e muito menos de compaixão. Talvez alguns digam que se trata de um caso isolado, e que o incidente estar relacionado com o aumento da delinqüência juvenil nos últimos anos. Eu particularmente, penso em tudo isso como um sintoma de uma sociedade que não para de reproduzir a desigualdade entre os gêneros. Em cada marca deixada no corpo de Sirley há um pouquinho de cada brasileiro. Não significa dizer que todos os homens brasileiros são machistas, mas sim que existe uma cultura machista disseminada em nossa sociedade, e que é responsável pela construção de uma representação arbitrária sobre as mulheres, e o que é pior nos autoriza enquanto homens subjuga-las aos nossos interesses. De uns tempos para cá, tornou-se lugar comum dizer que as mulheres aos poucos estão conseguindo ocupar espaços que até então eram ocupados privilegiadamente por homens. Mas ao meu ver, isso não diz muita coisa sobre a maneira como as mulheres estão sendo tratadas cotidianamente. O fato de elas agora estarem atuando como motoristas ou metalúrgicas, não fez desaparecer a estrutura de dominação que as aprisiona historicamente. Marilena Chauí, certa vez afirmou não entender o porquê das mulheres quererem tanto se inserir no mercado de trabalho. Para ela, trata-se de uma luta pelo direito de serem exploradas igualitariamente, do tipo, “se os homens podem, nós também podemos”. Ao meu, faz sentido a afirmação da filósofa, até porque não é simplesmente a independência financeira que irá alterar a percepção masculina sobre o feminino. Mas por favor, não pensem que sou contra essas poucas oportunidades que de alguma forma melhoram a condição da mulher em nossos dias, pelo contrário, se estou escrevendo isso, é porque acredito que elas merecem o melhor, assim como todos os seres que habitam esse lugar chamado terra. Dependência financeira é um problema sim, e não é pequeno. Existem inúmeros casos de mulheres que se submetem a uma vida de sofrimento ao lado de um parceiro violento, por não possuírem condições financeiras de sustentarem a sí e seus filhos. Essa é uma questão extremamente delicada, e que merece toda nossa atenção. Mas como já havia falado no início do texto, a carência não é apenas material, é também afetiva e porque não dizer simbólico -imaginária, uma vez que as mulheres precisam ser pensadas dentro de um novo imaginário, que as retirem da condição de seres inferiores, e destrua de vez o falso binarísmo masculino/feminino.

Um comentário:

rodrigo sérvulo disse...

não é porque as mulheres são diferentes do homens geneticamente que elas seja inferiores. texto relfexivo. tenho que mosatrar para minha irmã, minha mãe, minhas amigas, e também paras os amigos. é interessante essa quebra. enfim, bom texto, como sempre.

abraços.