quinta-feira, 18 de junho de 2009


Entre "Eichmans", "Josephs k" e "Mersaults"...

Neste último domingo, dia 14 de junho, acordei cedo decidido a retomar as atividades do blog, afinal de contas já ia fazer quase 9 meses que eu não publicava nada nesse espaço ao qual tanto estimo. Sem querer justificar minha ausência, até porque não sei se muitas pessoas sentiram minha falta, posso dizer que estive, quer dizer, ainda estou muito ocupado com os compromissos acadêmicos, entre os quais, atividades de pesquisa, leituras, participação em congressos, artigos, etc. Porém atualmente me sinto um pouco mais aliviado, o que me estimula voltar a escrever meus devaneios. Bom, onde estávamos...ah, lembrei. Acordei cedo pensando em publicar algo, mas ainda não tinha nada em mente. Então pensei, vou ligar a TV para ver se aparece algum fato novo que me inspire. Então, batata! Estou eu zapeando os canais e me deparo com uma discussão sobre um tema um tanto quanto batido e debatido, “a descriminalização da maconha”. Mesmo não sendo algo tão interessante de se ouvir às 8 da manhã de um domingo, decidi assistir para compreender as argumentações em jogo nesse embate. Entre os convidados um sociólogo e organizador da marcha da maconha no Rio de Janeiro, e um representante da associação dos magistrados, de cara, percebi que a discussão seria pelo menos divertida, para não dizer outra coisa. Entre os velhos discursos sobre estatísticas da violência envolvendo os usuários da maconha, passando pelas últimas descobertas da medicina em torno dos benefícios que podem ser extraído de tal erva, um em especial chamou minha atenção. Ao ouvir a fala do representante da associação dos magistrados comecei a pensar em Kafka e em Camus, ou melhor em Joseph K e no Sr. Mersault. Quem já leu “O Processo” e “O Estrangeiro”, certamente conhecem esses personagens, e talvez já tenha imaginado o porque dessa relação aparentemente esdrúxula. Para os que não leram eu explico: Joseph K, personagem de “O Processo” de Kafka e o Sr. Mersault, personagem de “O Estrangeiro” de Albert Camus vivenciaram situações semelhantes em suas respectivas histórias. Ambos estiveram diante de um banco de réus tendo que acertar contas com os guardiões da justiça. Bom, o caso de Mersault é bem diferente do caso de Joseph K, pois enquanto o primeiro fora levado aos tribunais por ter cometido um assassinato, o segundo desconhecia completamente os motivos  do seu julgamento.  O ponto comum entre os textos de Kafka e Camus, é que ambas as histórias evidenciam o quão abstrata, arbitrária e perversa é a máquina burocrática responsável pela criação das leis. Cheguei no ponto onde eu queria. Meu interesse não era falar sobre a discriminalização da maconha, mas sobre origem do discurso que fundamenta a argumentação dos magistrados, ou seja, dos guardiões da justiça. Ao ouvir na TV as palavras pronunciadas pelo representante da lei sobre a respectiva problemática, não conseguia identificar resquícios de pensamento, era como se ele não encontrasse possibilidades argumentativas para alem do Direito. Tudo se reduzia a uma questão de legalidade e ilegalidade. E se a lei brasileira prescreve a proibição sobre o consumo de tal substância, a discussão está encerrada. O Direito produz Eichmanns em série, pessoas que simplesmente cumprem ordens e não se questionam porque estão obedecendo. E nós questionadores dessa lógica, amargamos a condição de sermos eternos “Mersaults” e “Josephs K”.

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