quarta-feira, 21 de novembro de 2007


Reflexões sobre o racismo no Brasil


A todo momento somos interpelados pela questão: “existe racismo no Brasil”? A idéia de uma nação miscigenada na qual as etnias convivem harmoniosamente é o argumento mais utilizado por aqueles que relutam em acreditar que o Brasil é um país verdadeiramente democrático. Também queria muito poder acreditar nessa afirmação, porém o cotidiano a todo instante me faz entender de maneira cruel que as coisas não são tão belas quanto imaginamos. Mesmo levando em consideração o fato de que a escravidão foi abolida no país a mais de um século, e que muitos negros estão ocupando “posições sociais” que até então eram privilégios de brancos, não podemos deixar de notar que o preconceito racial a cada dia dá provas de sua força. Diferente do apartheid norte-americano, onde brancos e negros eram segregados em mundos distintos, o nosso é caracterizado pelo silêncio. Ninguém é racista até última instância...somente em casos especiais, como por exemplo, quando uma garota branca (nem tão branca assim) insiste em namorar um garoto negro, ou vice-versa. Os pais ficam aflitos, não conseguem entender o que a filhinha, (ou o filhinho) deles viu em um rapaz (ou uma moça) com essas características, então, tentam persuadir-la (o) a desistir do relacionamento que de acordo com eles, não pode dar certo. Porém, o que chama atenção nesses casos, é que em muitos deles, a palavra racismo não é mencionada. Os indivíduos não se reconhecem enquanto racistas, e dessa maneira vão tocando o cotidiano, afinal de contas não é possível serem acusados de algo que inexiste por aqui, não é mesmo?
Interessante é que a população só se indigna com esses casos quando os mesmos ganham repercussão na mídia de uma maneira geral. Lembro das reações de alguns jornalistas diante do caso que envolvia a mãe de um jogador de futebol famoso, que foi “convidada” pelo recepcionista de um hotel a ingressar pelo elevador de serviço, utilizado pelos empregados pelo fato de ser negra. Logo, a população se mostrou revoltada com a atitude do recepcionista, que não fez nada mais que reproduzir uma prática que certamente estava dentro das normas do hotel, e mais ainda, introjetada nos esquemas representacionais de muitos ditos “cidadãos de bens” da sociedade brasileira. E por falar em futebol, é dentro das famosas “quatro linhas” que acontecem muitos dos casos de racismo do país. Quem não lembra dos inúmeros casos de jogadores negros que foram cuspidos ou chamados de “macacos” por seus colegas de profissão? Como podemos perceber o racismo por aqui é bem mais comum do que imaginamos, mas mesmo assim, insistimos nessa “lenga-lenga” verborrágica de que isso é problema de outros países, como aqueles da Europa, onde é comum encontrar facções de extrema direita que pregam ódio aos negros e aos chamados mestiços. Lamento informar, mas no Brasil existem também grupos que pregam ódio racial, e a cada dia crescem o número de adeptos. No inicio do ano em Brasília houve um atentado a uma residência estudantil na UNB onde viviam estudantes africanos. Como se não bastassem as pichações com dizeres odiosos nas portas dos apartamentos, atearam fogo no prédio. Lembro de ter ouvido comentários que diziam que alguns estudantes estavam indignados com certos privilégios concedidos aos africanos, como se de alguma forma isso apaziguasse o caráter racista do atentado. Parece que a Universidade de Brasília convive bem com essa situação, quem não lembra o caso do professor de Ciências Políticas que foi punido por se referir aos negros como “crioulada”. Diferente do que podemos imaginar, esses casos não são cometidos por indivíduos de maneira isolada, como por maldade, ou por falta de amor ao próximo. Trata-se de uma particularidade da cultura brasileira que tem suas raízes fincadas sobre uma velha estrutura definida pelo par “casa-grande e senzala”. Tinha planejado escrever sobre outra coisa, mas lembrei que estávamos na semana da consciência negra, e, que não poderia perder a oportunidade de me manifestar a respeito de um fenômeno que sob muitos aspectos ainda é considerado tabu em nosso país.

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