quarta-feira, 7 de novembro de 2007


You say you want a revolution? Well you know...


Com a saturação do imaginário moderno em virtude das recentes transformações políticas e culturais que marcaram o início do século XX, podemos vislumbrar o nascimento de novas formas de oposição ao poder. Diferente dos partidos políticos de esquerda, essas micro-resistências não sonham com a “tomada do poder” mediante uma revolução, e muito menos acreditam ser possível uma sociedade igualitária, transparente e livre de conflitos, como prescreve a utopia socialista. Eles fazem do cotidiano sua praça de guerra, resistindo bravamente as diferentes formas de poder que perpassam todo o tecido social. Para aqueles que continuam presos a um modelo de transformação política do século XIX, é impossível conceber formas de luta, que tenham por objetivo maior a causa do sujeito, uma vez que a idéia de singularidade é confundida com afirmação individual, ou seja, mais uma estratégia da “burguesia”. Assim, a idéia de micropolítica, que estar relacionada com a produção de afectos (no sentido Spinozano), é suplantada, por um discurso reacionário, que associa subjetividade a conformismo. Será que podemos continuar desprezando as microrebeldias pelas mesmas não possuírem uma organização semelhante a dos partidos ou um projeto de revolução centrado na conquista do poder?


“Quando o mundo é concebido através do prisma da conquista do poder, muitas das lutas, muitas das maneiras de expressão da nossa rejeição, muitas das maneiras de lutar pelos nossos sonhos de uma sociedade diferente simplesmente se “filtram”, simplesmente permanecem ocultas. Aprendemos a suprimi-las e, assim, a suprimirmos a nós mesmos” (Holloway, 2003:31).

Quando enfatizamos a dimensão micropolítica, não estamos querendo desmerecer as inúmeras lutas das organizações que buscam transformar a sociedade por intermédio do Estado, mas sim indicar, que a política em seu sentido mais amplo não pode ser concebida a partir de uma esfera apartada do sujeito. Não se trata de afirmar que os membros das instituições partidárias são seres a-desejantes, o que seria uma afirmação absurda, pois é impossível falarmos de uma colonização total dos afetos pela razão. Contudo, não podemos deixar de levar em consideração, que os discursos de poder das instituições que prescrevem ao sujeito uma única forma possível de transformação social, retira do mesmo, a capacidade de refletir sobre sua própria condição de sujeito histórico, ele não “age” sobre as estruturas de poder, mas é “agido” pelas mesmas. Quando nos remetemos a uma reconfiguração das lutas políticas na contemporaneidade enfatizando a capacidade criadora dos sujeitos, não significa dizer que estamos assistindo a uma tomada de consciência planetária dos indivíduos como jamais foi vista, mas indicar que aquela noção de revolução centrada na conquista do poder, foi (está sendo) reelaborada devido acontecimentos históricos decisivos. O fracasso das experiências socialistas na China, Alemanha e Rússia, somadas as descrenças na mudança advindas de um quadro político institucionalizado, fez com que surgissem alternativas a um modelo típico ideal de revolução. O descontentamento social se expressa em nossos dias de maneira difusa, vemos o aumento de diversos focos de contestação com preocupações que escapam os tradicionais temas das reivindicações de classe. Isso não implica dizer que a luta por uma menor desigualdade sócio-econômica entre os povos tenha perdido sua força em detrimento de outras lutas, mas sim que existem diversos grupos que se organizam dentro de outra perspectiva, que não somente aquela fornecida pela luta de classes. O desafio que hoje se impõe a esses grupos é repensar uma tática de dissolução das estruturas de poder, que não aquela construída pelo olhar do dominador. A maioria dos movimentos sociais (sejam aqueles que lutam por reconhecimento ou distribuição) continuam aprisionados em um modelo moral, onde o que está em jogo são as “verdades” do coletivo sobre a verdade do sujeito, resiste-se não porque busca-se a felicidade, uma estilística da existência (semelhante aquela apresentada pela afrodisíaca grega), mas sim porque estamos territorializados pelos discursos de poder. A luta cotidiana contra os “micro-fascismos” representa uma tentativa de construirmos uma resistência do ponto de vista do sujeito, colocando em evidência o desejo, pois só ele é revolucionário...

HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem tomar o poder. São Paulo: Editora Viramundo, 2003.

Um comentário:

CotiCAFEdiano disse...

hahaha!
Foram nossas conversas sobre doenças contemporâneas. Mas não estou esquizofrénico, era apenas ansiedade. Ta ligado? Agora me deu vontade de ler Deleuze.

Grande abraço!
:*